sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

'Cancún foi um passo muito pequeno para o Planeta'

A costa-riquenha Christiana Figueres assumiu faz sete meses um difícil desafio.  Converteu-se na máxima representante na luta contra o aquecimento global da ONU – a secretária executiva da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática -, depois do fiasco do Encontro de Copenhague e do abandono do cargo por parte de Yvo de Boer.  Como explica em entrevista ao El País, 17-02-2011, essa antropóloga neta de catalães, ainda que o panorama tenha mudado bastante depois do Encontro de Cancún em dezembro, não se avançará sem que os países mais desenvolvidos assumam compromissos maiores.

Eis a entrevista.  A tradução é do Cepat.

Como estão as negociações do clima?

Cancún foi um grande passo para os países, mas muito pequeno para o planeta.  Foi o maior esforço coletivo jamais feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a demonstração mais clara para os países em desenvolvimento.  Além disso, deu um claro sinal para o setor privado de que precisamos avançar para uma economia de baixo carbono.  Mas, lamentavelmente, a redução de emissões de 80 países que está sobre a mesa de negociação representa apenas 60% do que se necessita para conter o crescimento da temperatura em dois graus.

De onde virá então os 40% da redução que falta?

Uma possibilidade é buscar a redução em diferentes setores.  Algumas das emissões que não estão contabilizadas são as do transporte marítimo e aéreo.  Mas ainda que parássemos todos os aviões e barcos reduziríamos apenas 5% das emissões globais.  As nações industrializadas terão que fazer um esforço maior.  E logo os grandes países em desenvolvimento.  Nenhuma nação pode estar insenta da responsabilidade moral de reduzir até onde possa.  Temos o exemplo de países muito pequenos que têm apenas a responsabilidade de 0,01% das emissões globais e que mesmo assim estão fazendo os seus esforços como Maldivas ou Costa Rica.

É possível compromissos de redução vinculantes?

Isso ainda está no ar.  O fato de ser legalmente vinculante te dá um pouco mais de certeza, mas tampouco garante que se vá avançar.  Um exemplo: O Canadá não apenas assinou como também ratificou o Protocolo de Kioto e, portanto, o seu compromisso é legalmente vinculante.  Mas, entretanto, não se fez nada.

Esperava mais dos EUA com a chegada de Obama?

Sim.  Esperava que assumisse um compromisso proporcional a sua responsabilidade histórica e a sua capacidade tecnológica e que aprovasse uma legislação nesse sentido.  Obama ofereceu em Copenhague uma redução de 17% com base em 2055 e em Cancún reiterou esse compromisso em que pese não ter uma legislação.  Esperamos que a que está em curso sirva para avançar.

A União Européia perdeu peso nas negociações?

Não acredito.  A UE tem sido importante com sua liderança empurrada por uma das populações mais conscientes do problema.

A crise fez com que a Espanha deixasse de ser uma das últimas nessa luta?

A crise financeira vai ajudar a muitos países cumprirem o Protocolo de Kioto, mas isso é apenas circunstancial.  A longo prazo, a Espanha e todos os outros países da Europa precisam se dar conta que para além de ser uma responsabilidade, medidas contra as mudanças climáticas podem também favorecer a economia.

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