quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Bertin deixa sociedade de Belo Monte depois de veto do BNDES

Josette Goulart e Vera Saavedra Durão

O grupo Bertin decidiu que a Gaia Energia vai sair da sociedade Norte Energia, dona da concessão da usina hidrelétrica de Belo Monte.  Ele detinha 9% como sócio autoprodutor.  A construtora do grupo, a Contern vai manter os 1,25% que detém na usina.  A decisão foi tomada depois que o BNDES informou aos outros sócios do empreendimento que não teria como aprovar garantias do Bertin para o financiamento de longo prazo da usina, como informou o Valor na edição do dia 4 de fevereiro.

Na mesma edição, foi informado que a Vale poderia ser a sucessora da Gaia em Belo Monte.  As negociações nesse sentido estão sendo travadas com alguns acionistas da companhia, segundo pessoas a par do assunto.  Mas fontes próximas à mineradora dizem que o tema não foi apreciado pela diretoria executiva da empresa e lembra que a entrada em um empreendimento como esse precisa ser aprovado pelo conselho de administração.

A saída da Gaia já estava prevista no acordo de acionistas do Norte Energia.  A empresa tinha a opção de reduzir sua participação de 9% para 2% e o acordo previa que caberia à Eletrobras buscar um novo sócio autoprodutor para o empreendimento caso a Bertin saísse.

Ter a Vale como a sócia autoprodutora é vista como a saída mais fácil, já que a empresa tem a Previ como seu principal acionista.  A mesma Previ já tem indiretamente 10% do Norte Energia, com a participação da Neoenergia - que entrou no pós-leilão na sociedade.  A mineradora tem interesse em negócios de energia e também em Belo Monte, tanto que participou de um dos consórcios na disputa pela hidrelétrica justamente em consórcio com a Neoenergia.  Mas perdeu.  Mesmo que entre agora em Belo Monte, a empresa não precisa de toda a energia que caberá ao sócio autoprodutor.  No ano passado, a Votorantim também fazia parte do consórcio da Vale e também como autoprodutora.

Outros poucos autoprodutores estão recebendo alguns recados da Eletrobras, mas não têm sido muito receptivos.  Todos eles, inclusive a Vale, só entrariam em uma negociação dessa sob determinadas condições de custo e retorno.  No ano passado, todos os grandes autoprodutores foram chamados a negociar e naquela época não se conseguiu chegar a um acordo.  A obra agora está cada vez fica mais cara e os cronogramas cada vez mais apertados.

Apesar de estar previsto em acordo de acionistas que a Gaia poderia manter 2% como autoprodutora, o grupo Bertin decidiu sair integralmente e se dedicar exclusivamente a resolver os problemas das usinas termelétricas do grupo.  Sete usinas deveriam ter entrado em operação em janeiro, mas estão com as obras atrasadas e outras duas já prontas estão em dívida com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica e portanto sob risco de perda de concessão.

Essas térmicas estão sangrando o caixa da Bertin.  As garantias que precisam ser depositadas na CCEE já somam R$ 405 milhões e a empresa já gastou outras centenas de milhões de reais com a compra de equipamentos e início das obras civis das usinas.  Ao todo, o grupo terá de investir cerca de R$ 7,5 bilhões em cerca de duas dezenas de usinas, que juntas tornarão o grupo o segundo maior gerador privado do país.  Além disso, no início do março a empresa precisa ainda resolver seu problema com o trecho sul leste do Rodoanel, onde terá que aportar garantais de R$ 304 milhões.

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