quarta-feira, 15 de julho de 2009

OESP - A Amazônia pode ser dos equatorianos

"Vocês querem uma boa notícia?", perguntou a equatoriana Yolanda Kakabdse, com um tom de professora primária que tenta acalmar uma turma agitada. Em uma assembleia onde os latino-americanos disputavam um torneio mundial de derrotas ambientais, ela prometia uma história "para deixar vocês mais contentes". Ela falou sem desarmar o sorriso no canto da boca, com a calma de quem tinha tempo de sobra nos cinco minutos cravados reservados a seu discurso. Contou pausadamente o caso do Parque Nacional do Yasuní, onde o Equador está mais perto do que se pensa de emplacar a primeira novidade significativa a brotar em mais de duas décadas no continente como política de desenvolvimento da Amazônia.

Por Marcos Sá Corrêa*

Trata-se daquele parque de quase 10 mil quilômetros quadrados, na borda oriental dos Andes, de onde a Petrobrás foi enxotada há cinco anos pelos huaorani, em nome dos direitos imemoriais que a estatal brasileira estava violando. A Petrobrás tropeçou na indignação indígena quando prospectava o subsolo da Amazônia alheia, abrindo estradas na floresta primária, e transportava equipamentos pesados no Tiputi, um rio até então imaculado.

Na ocasião, o presidente Lula mandou uma carta ao colega equatoriano Alfredo Palacio, naquele estilo "o que é isso, companheiro?" que anda em voga na diplomacia latino-americana. Mas ficou por isso mesmo.

Ou melhor: piorou bastante, desde que o governo Palacio passou às mãos do sucessor, Rafael Correa. Esse reciclador do populismo bolivariano emplacou, no ano passado, uma nova constituição, que celebra "a natureza, a Pacha Mama" logo nas primeiras linhas de seu preâmbulo e, no Artigo 14, reconhece o "direito da população a viver num ambiente são" - coisa que a brasileira também diz, mas não na prática.

GRANDE NEGÓCIO?

No Equador, os princípios constitucionais estão costurando um acordo internacional para manter a floresta intacta e "o petróleo debaixo da terra". São 900 milhões de barris, guardados sob o Yasuní, no conjunto de reservas do Ishpingo, Tiputi e Tambococha, pousadas sobre um tesouro petrolífero. E a ex-ministra do meio ambiente Yolanda Kakabadse estava ali para explicar que, pelo menos para o governo alemão, o que está em cima da terra pode valer mais no mercado mundial da desordem climática. É, como ela disse, um "grande negócio".

Para deixar o petróleo onde está, os equatorianos pedem US$ 350 milhões por ano de compensações internacionais, a título de evitar a liberação de dióxido de carbono (CO2) ou qualquer outro artifício da engenharia financeira.

A proposta soou como blefe, quando saiu de Quito há cerca de dois anos. De lá para cá, correndo mundo, incorporou todos os truques da moda. Os alemães, por exemplo, já se dispuseram a apostar 50 milhões por ano na conservação do Parque Nacional do Yasuní.

Se o dinheiro sair, será investido por contrato em 40 reservas naturais, abarcando 38% do território equatoriano. Na troca de energia suja por matrizes limpas, como as fontes termais dos vulcões. E, claro, no bem-estar das populações tradicionais na Amazônia.

"Comprem uma tonelada de carbono por US$ 29 para pendurar na parede do quarto de seus filhos e mostrar a eles que vocês também participaram dessa história", sugeriu Kakabadse à plateia.

Para os brasileiros, talvez seja a maneira mais barata de investir em um futuro que estava nascendo aqui ao lado, enquanto nós discutíamos o PAC.

*É jornalista e editor do site O Eco (www.oeco.com.br)

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