domingo, 16 de janeiro de 2011

Substância de solos da Amazônia ajuda tratar a Aids

De 110 amostras de Actinomycetes isolados, 22% apresentaram ação antifúngicas capazes de combater a Candida glabrata presentes em pessoas infectadas pelo HIV. A descoberta é de Regina Yanako Moriya



Chico Araújo

BRASÍLIA – Solos de áreas da Amazônia produzem substâncias antifúngicas capazes de combater a Candida glabrata, encontrada somente em pacientes com HIV, o vírus causador da Aids. A constatação é da doutora em Biotecnologia Industrial, Regina Yanako Moriya, ao investigar o potencial das substâncias antifúngicas produzidas por Actinomycetes – bactérias filamentosas – isolados de amostras de solos da região. Moriya isolou 110 Actinomycetes e, destes, 22% possuíam ação antifúngica eficiente no combate dessa espécie de candida. 


A pesquisa de Moriya ainda confirmou que as substâncias estudadas (e testadas) também combatem a Candida albicans e o Cryptococus neoformans. A primeira é bem comum nas mulheres, quando acometidas de doenças vaginais causadas por candida. Cryptococus é causador de um tipo de meningite e ataca o sistema nervoso do infectado. Os Actinomycetes são uma das principais fontes de metabólitos secundários com atividade anti-celular.

Moriya realizou seu estudo no Laboratório de Micologia da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, de Manaus (AM). Outro dois pesquisadores – João Vicente B. Souza e Érica S. Souza – também fazem parte da “Bioprospecção de substâncias antifúngicas produzidas por actinomycetes isolados na Região Amazônica”.

O isolamento de Actinomycetes tem sido alvo de abordagens entre os pesquisadores devido à capacidade destes de produzir metabólitos de interesse industrial. São responsáveis pela produção de 70% dos antimicrobianos existentes, incluindo a eritromicina, tetraciclina, estreptomicina, clorafenicol, neomicina, nistatina, anfoteriona B e ciclohexamina, e outras novas substâncias continuam sendo descobertas.
Poucas pesquisas nessa área

A pesquisa integra o Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR), financiado pelo Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).  A iniciativa tem a finalidade de fixar pesquisadores e doutores na Amazônia. Atualmente, 70% das pesquisas realizadas na região estão nas mãos de pesquisadores estrangeiros. Moriya doutorou-se em Biotecnologia Industrial pela Universidade de São Paulo (USP) e foi convidada pelo Inpa para desenvolver o projeto de isolamento de Actinomycetes produtores de antifúngicos.

“Existem bactérias e fungos, que são micro-organismos diferentes. Os Actinomycetes são um misto dos dois: uma bactéria filamentosa”, explica Regina Moriya. Segunda a pesquisadora, esses Actinomycetes possuem filamentos curtinhos e, portanto, são capazes de produzir substâncias antifúngicas.

Moriya disse que a iniciativa de pesquisar a existência dos antifúngicos nos solos da Amazônia se deu devido ao fato de as pessoas já apresentarem resistência àqueles existentes no mercado. A partir dessa constatação o Inpa para buscar uma solução, o que foi possível com a pesquisa coordenada pela doutora Regina Moriya.

No mundo são poucas as pesquisas que investigam novos produtos a partir de Actinomycetes. China, Austrália e Marrocos trabalham com esse tipo de pesquisa e, no Brasil, não havia grupos de pesquisas instalados na Amazônia para investigar o potencial antifúngico das substâncias produzidas por Actinomycetes.

A pesquisa liderada por Moriya coletou amostras de solos do município de Presidente Figueiredo, a 110 quilômetros de Manaus, capital do Amazonas. Durante o trabalho foram isoladas 41 linhagens de quatro amostras de solo superficial, contendo material vegetal em decomposição.

Em vídeo no Youtube, a doutoura Regina Yanako Moriya explica sobre a pesquisa. A Revista Eletrônica de Farmácia traz também um resumo do trabalho desenvolvido pela pesquisadora,
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