domingo, 2 de janeiro de 2011

O elo entre o ontem e o amanhã

Especial para o Diário do Nordeste - O Brasil viveu mais eventos climáticos extremos em 2010 do que em qualquer outro ano de sua história. O ano começou com a destruição da cidade histórica de São Luiz do Paraitinga, em São Paulo, por conta das chuvas. Avançou com as inundações no Nordeste, que atingiram de forma impiedosa populações de Alagoas e Pernambuco, mas que também castigaram outros Estados da região.

Foram meses de discussões entre as autoridades, principalmente em relação à capacidade dos Estados em atuar nessas tragédias ambientais. As estruturas de defesa civil demonstraram grande capacidade de superação e a solidariedade dos brasileiros de outros Estados tornaram menos sofridas as vidas de quem perdeu tudo.

No entanto, ficou claro que o País não pode mais depender de um modelo de defesa civil baseado em recursos locais para superar os eventos extremos que estão sendo cada vez mais frequentes.

Seca e queimadas

Há indícios de que os próximos anos vão surpreender as populações de quase todas as regiões com eventos climáticos dos mais díspares, como a seca na Amazônia, que baixa o nível dos rios e resseca a mata, criando condições para grandes incêndios florestais. E este ano o volume de queimadas na região foi recorde, maior do que a média entre 1998 e 2007, quando o fogo aumentou 59% na região. E esta situação coloca por terra todos os esforços do País para reduzir suas emissões de gases estufa.

Este ano, também, deixou uma marca de morte no Centro Oeste e Sudeste do País, com uma das mais prolongadas secas que a região já viveu. A umidade relativa chegou abaixo de 10% em muitos dias, o que levou aos hospitais milhares de crianças e idosos. Não houve um trabalho de divulgação sistemática dos atendimentos hospitalares e das mortes provocadas por essa situação, mas muitas notícias deram conta de óbitos e da lotação das emergências.

Ou seja, não houve região do Brasil que tenha ficado livre de problemas relacionados a eventos climáticos extremos. Da mesma forma que uma tempestade que despeja o volume de água esperado em um mês em apenas uma tarde, a seca por meses a fio também é um evento extremo.

No Ano Internacional da Biodiversidade é preciso lembrar que a vida na Terra é um evento de milhões de espécies, e não apenas de humanos, e que o clima muda para todos. Enquanto a humanidade tem a presunção de usar a ciência e a tecnologia para mitigar os efeitos sobre as populações, nos últimos 15 anos aumentou em três vezes o número de espécies em risco de extinção e algumas já são consideradas extintas na natureza.

Desertificação

No Nordeste, aumenta grandemente o risco de desertificação do semiárido, com graves consequências para a segurança alimentar da região. Para minimizar os impactos das mudanças climáticas sobre a sociedade e a economia brasileira será preciso investir forte em dois setores.

O primeiro é o fortalecimento da capacidade de resposta das organizações de defesa civil, criando, talvez, uma Defesa Civil Nacional, capaz de mobilizar recursos das forças armadas e de corporações estaduais e, também, fazer um sistemático mapeamento das áreas de risco e tomar providências para minimizá-los.

Na outra ponta, é preciso investir forte na transformação da economia brasileira em uma economia de baixo carbono. Para isso será preciso aplicar cerca de US$ 20 bilhões por ano até 2030, de acordo com uma pesquisa elaborada pelo Banco Mundial. Somente o setor energético terá de investir US$ 7 bilhões por ano para manter uma matriz de geração limpa, hoje baseada principalmente em hidrelétricas, mas que precisa incorporar energia eólica e solar. E isso representa imensas oportunidades de negócios.

A situação presente do Brasil é mais favorável à transição para uma nova economia, baseada em produção de biomassas para energia, alimento e indústria do que qualquer outro país do mundo. A Nação vive o elo entre o ontem, que se baseou em crescimento econômico às custas de exportação extrativista e de produtos primários, e o amanhã, que pode ser baseado em uma economia com forte enfoque em serviços, cultura, biodiversidade e tecnologias limpas. A atual geração é o elo entre estes dois modelos de desenvolvimento, com escolhas claras a serem feitas e com um potencial de riquezas a serem exploradas. As fórmulas do passado não servem mais, e as soluções do amanhã esperam para serem implantadas.

O País não pode mais depender de um modelo de defesa civil baseado em recursos locais para superar os eventos extremos cada vez mais frequentes.

A situação do Brasil é mais favorável à transição para uma nova economia, baseada em produção de biomassas para energia, alimento e indústria.

(Envolverde/Diário do Nordeste)

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