sábado, 15 de janeiro de 2011

México fatura com a proteção florestal

Modelo de controle comunitário adotado em 60% a 80% das florestas mexicanas é considerado bem-sucedido Na cidade de Ixtlán de Juárez, as decisões sobre a floresta são tomadas por um grupo de 390 moradores

Elisabeth Malkin do New York Times
Em Ixtlán Juárez (México)

Libertar das ervas daninhas os jovens pinheiros plantados no ano passado é apenas o primeiro dos muitos passos que Ixtlán de Juárez precisa dar para sustentar as árvores até que cresçam, prontas para a derrubada daqui a meio século.

Mas os moradores de Ixtlán pensam a longo prazo. "Somos donos dessa terra e tentamos conservar a floresta para nossos filhos", disse Alejandro Vargas.

Três décadas atrás, os índios zapotecas do Estado de Oaxaca, no sul do México, lutaram pelo direito de administrar a floresta como propriedade comunitária e saíram vitoriosos.

Agora, as empresas da cidade empregam 300 pessoas que derrubam árvores, produzem móveis de madeira e cuidam da floresta, e Ixtlán se tornou referência internacional para gestão e propriedade comunitária de florestas, dizem especialistas.

Cerca de 60 das empresas florestais mexicanas, entre as quais a comunidade de Ixtlán, têm o certificado do Conselho de Guarda Florestal, da Alemanha, que avalia as práticas sustentáveis de exploração de florestas.

Entre 60% e 80% das florestas que restam no México estão sob controle comunitário, de acordo com Sergio Madrid, do Conselho Cívico Mexicano de Exploração Florestal Sustentável.

EXEMPLO MEXICANO "É surpreendente o que está acontecendo no México", disse David Barton Bray, especialista em gestão comunitária de florestas na Universidade Internacional da Flórida, que estudou Ixtlán.

Nos países em desenvolvimento, onde a lei tem alcance curto e a fiscalização é precária, não basta declarar que a exploração de uma floresta é proibida para evitar exploração ilegal ou desmatamento não autorizado.

"A menos que as comunidades locais tenham o compromisso de preservar as florestas, isso não acontecerá", disse David Kaimowitz, ex-diretor do Centro de Pesquisa Florestal Internacional (Cifor) e hoje pesquisador na Ford Foundation.

Um estudo recente reportou que mais de um quarto das florestas nos países em desenvolvimento estão sob administração de comunidades locais. É uma tendência -da China ao Brasil.

Em Ixtlán, sob as tradições zapotecas, as decisões sobre a floresta e os negócios a ela relacionados são tomadas por uma assembleia de 390 moradores (quase todos homens).

Muitos dos problemas que prejudicam outras florestas mexicanas, tais como exploração madeireira ilegal e desflorestamento, mal merecem atenção em Ixtlán.

Pedro Vidal García, veterano trabalhador forestal em Ixtlán, agora é funcionário da Rainforest Alliance e riu quando questionado sobre exploração ilegal nos 19,5 mil hectares de floresta que a comunidade controla.

"Quem quer que tente realizar negócios ilegais aqui será severamente julgado. A assembleia é muito rigorosa."

No ano passado, os negócios da comunidade registraram lucro de cerca de US$ 230 mil.

Do total, 30% foram reinvestidos, outros 30% foram aplicados na preservação da floresta e os 40% restantes, redistribuídos aos trabalhadores e à comunidade.

Os atuais trabalhadores e administradores das empresas são filhos e filhas dos "comuneros" do passado, mas tiveram o benefício de uma educação universitária.

É uma mistura empresarial estranha, reconheceu Alberto Belmonte, que tem a tarefa de localizar novos mercados para a mobília e a madeira produzida por Ixtlán e duas cidades vizinhas.

"O socialismo puro e simples, que existe nas comunidades, e uma ideia de capitalismo que nos leva a dizer que temos de ser lucrativos."

Muitos dos móveis simples de pinho são vendidos ao governo, e a fábrica está ocupada atendendo a uma encomenda de beliches e armários para um orfanato estadual. Belmonte quer melhorar o design dos produtos e entrar na Cidade do México.

Embora os negócios se sustentem, Ixtlán ainda é um modelo em progresso. Organizações não governamentais e o governo do México oferecem verbas e assessoria.

E mesmo os mais vigorosos defensores do modelo comunitário de exploração florestal reconhecem que ele não é a resposta para a proteção de todas as florestas. Funciona melhor em áreas que produzam madeira de qualidade, disse Bray.

Mas, ainda assim, representa forte melhora sobre os modelos precedentes.

"As coisas estão funcionando", disse Francisco Chapela, agrônomo que chegou a Paxaca 30 anos atrás e agora trabalha para a Rainforest Alliance no México.

"A gestão florestal é um grande sucesso. Se você estudar velhas fotografias aéreas e comparar com a situação atual, verá que a floresta está crescendo, aqui."

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