sábado, 6 de dezembro de 2008

O Globo - Jobim: proteger Amazônia é tarefa do Brasil

Por José Meirelles Passos
Correspondente

Ministro diz a platéia de americanos que país pode até usar a força para defender região e a área do pré-sal

WASHINGTON. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, deixou claro ontem — falando a acadêmicos americanos, funcionários do governo dos Estados Unidos e investidores internacionais — que o Plano Estratégico Nacional de Defesa, a ser aprovado nos próximos dias, terá como um de seus objetivos essenciais a proteção da Amazônia e também da área marítima onde o Brasil vai explorar petróleo em águas profundas (a zona do pré-sal).

— O submarino de propulsão nuclear que vamos construir, em colaboração com a França, será destinado a defender a área que vai de Vitória a Santos — disse ele, acrescentando que o Brasil também produzirá três submarinos convencionais, movidos a diesel.

Jobim teve participação intensa, interrompida duas vezes por aplausos, no seminário “Perspectivas para as relações Brasil-EUA no novo governo americano”, promovido pelo Woodrow Wilson Center, na capital americana. Ele reafirmou que o Brasil é um país pacífico, mas sugeriu que não titubearia em utilizar a força caso isso seja necessário. A nova política de defesa, disse, visa a deixar o país preparado para qualquer emergência: — A tradição do Brasil é a de não recorrer ao conflito nunca. Mas, se tiver necessidade disso, é preciso ter condições para encarar a situação.
Precisamos ter capacidade de dizer não. É o que chamamos de capacidade dissuasória de defesa.

O ministro foi incisivo ao falar sobre a Amazônia, região que provoca freqüentes discussões entre os americanos.

Eles gostariam de vê-la intocada.
Jobim disse que esse tipo de pressão, feita por políticos e organizações ambientalistas estrangeiras, não será mais aceita pelo Brasil: — A Amazônia tem uma agenda ecológica que é produzida fora do país e que acaba empurrando a sua população de 20 milhões de pessoas para a marginalidade, pois acham que a região não pode se desenvolver.

O Brasil sabe que compete a ele preservar esse espaço, para o bem do país e do mundo. Mas isso cabe apenas ao Brasil fazer, e do jeito que acharmos melhor. Não vamos fazer isso para o deleite de europeus que desejam um parque cheio de árvores para visitas de fins de semana — afirmou, sob aplausos.

Povo da Amazônia precisa de “trabalho e renda”

Ele disse ainda que a população da Amazônia “não precisa de esmola mas sim de trabalho e renda”. E concluiu: — Se não houver isso, ela vai para a economia informal e a ilegalidade, para sobreviver.
O ex-subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, Thomas Pickering, foi taxativo: — Devemos respeitar o que Jobim disse sobre a questão ecológica. O Brasil é agora um poder emergente.

John Danilovich, ex-embaixador dos EUA em Brasília, disse que o novo governo precisa se engajar com o Brasil em assuntos internacionais deixando de ver o país apenas como grande vizinho: — O Brasil já chegou à maturidade.

Deixou de ser o país do futuro: o Brasil já chegou lá.
O governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, que participava do evento, reforçou o argumento de Jobim sugerindo que os estrangeiros deveriam pagar pela preservação da Amazônia: — Queremos uma política própria para a Amazônia. Mas vamos precisar da ajuda do resto do mundo.

Jobim participou de um painel em que se discutiu se há espaço para o relacionamento estratégico entre os dois países.
Vários participantes trataram de definir, segundo seus cálculos, o atual grau de relacionamento.

O ministro brasileiro demonstrou estar cansado desse tipo de discussão: — Não temos mais tempo para pensar em aprofundamento de diálogo. Devemos é pensar no que se pode fazer imediatamente.

Demonstrando impaciência com discussões apenas retóricas, ele arrematou, provocando risos na platéia: — Não importa se a parceria é estratégica, meio estratégica ou relativamente estratégica.

Essas questões semânticas deixamos para os companheiros do Itamaraty, que são bons em lidar com advérbios e com adjetivos.

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