segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Folha - Feliz compromisso novo

Artigo
Por MARINA SILVA

O PERÍODO de festas -principalmente a passagem do ano- é o tempo dos novos compromissos. Fazemos promessas íntimas relacionadas a nós mesmos, à família, ao trabalho, ao mundo. Mas, encantados com os compromissos novinhos em folha, esquecemos de fazer o balanço dos antigos, os da virada de ano anterior. E assim banalizam-se os bons propósitos, tanto os velhos quanto os novos. Muitos se perdem sem ter merecido um único esforço para colocá-los em prática ou avaliá-los.

Esforço-me para reduzir minhas promessas a um rol relevante e digno de esforço. Uma delas foi a de recuperar o prazer do estudo sistemático. Procurei alternativas para me aprofundar em temas que me atraem. Dos compromissos assumidos em 2005, resultou um curso de teoria psicanalítica na Universidade de Brasília em 2006 e 2007.

Em 2007, foi o curso de psicopedagogia da Universidade Católica de Brasília, também de dois anos, em fase de conclusão. Com isso, permito-me acessar, de maneira organizada e persistente, um conhecimento que me alimenta e dá novos ângulos de visão, me ajuda a entender a complexidade de situações, das pessoas e do mundo com o qual interajo.

Do ponto de vista político, no final de 2007, quando havia previsão de aumento do desmatamento na Amazônia em até 40%, assumi, junto com a equipe do Ministério do Meio Ambiente, o compromisso forte, quase dramático, de fazer a curva baixar. Chegar ao final de 2008 com aumento de 3%, ainda que a linha de base -de 12 mil km2- seja muito alta, é uma vitória da inflexão para medidas preventivas. Apesar das dificuldades que me fizeram, inclusive, sair do MMA, o balanço do processo é positivo, até porque contribuiu para levar o Brasil a ter metas para redução drástica do desmatamento.

O grande significado do rito de final de ano é construirmos um bom passado para tudo que nos aconteceu, de positivo e de negativo. Como diz a psicopedagoga argentina Alicia Fernández, somos o resultado do que fazemos com o passado, e não daquilo que o passado faz conosco. Concordo. Se fizermos dele algo relevante para nossa experiência de vida e, sobretudo, para nossos novos compromissos, abrimos de fato outra perspectiva.

É fundamental deixar as vivências se transformarem em passado para não nos tornarmos reféns delas. Na política, por exemplo, a tentação de repetir continuamente o momento de êxito e visibilidade, sem deixá-lo pertencer ao passado, distorce as possibilidades oferecidas pelo presente para agirmos sobre o futuro.
Bom passado a todos e um feliz compromisso novo!

*MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.

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