quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Envolverde - Governança para a Amazônia


Por Adalberto Marcondes, da Envolverde

Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, é uma das vozes que se levantam em defesa da Amazônia. Para ele o Fórum Amazônia Sustentável é um espaço legítimo para a discussão dos temas estratégicos para a construção de modelos de governança que permitam o desenvolvimento regional e a soberania brasileira. Young deu esta entrevista em Manaus, durante a realização da II Plenária do fórum, no final de novembro.

Dal Marcondes - Depois de um ano de Fórum Amazônia Sustentável, há algumas ações concretas, como o Conexões Sustentáveis: São Paulo-Amazônia e os pactos da carne, madeira e soja. Mas o que você acredita que a Amazônia ganhou com o fórum?

Ricardo Young - Ganhou convergência. Um dos grandes problemas da Amazônia é a falta de integração das iniciativas. Os ambientalistas de um lado, as populações tradicionais de outro, e as empresas sem saber com que interagir. Este primeiro ano do Fórum Amazônia Sustentável permitiu que haja uma visão compartilhada e uma perspectiva de construção coletiva. Não é o suficiente, mas é indispensável para qualquer próximo passo.

DM - Quais são as ações que você considera estruturantes neste primeiro ano?

RY - O projeto Conexões Sustentáveis foi estruturante, porque enfrentou a grande pressão econômica que o Centro-Sul exerce sobre a Amazônia, e tocou na questão da ilegalidade em cadeias produtivas essenciais em setores importantes para a economia. A discussão sobre a Zona Franca 2.0 [Dois Ponto Zero] é muito oportuna, porque existe uma tese de que o adensamento urbano em torno de zonas industriais ou de zonas de tecnologia intensiva pode aliviar a pressão sobre a floresta. Os movimentos de regularização fundiária ainda em andamento também são muito importantes. Neste próximo ano, algumas novas questões virão à tona. O mecanismo de financiamento para a floresta é uma delas, bem como o mapeamento do potencial científico e tecnológico ligado à floresta e a idéia de que os serviços ambientais da floresta têm valor econômico essencial não apenas para a própria floresta, mas para as atividades econômicas e para as grandes cidades. A precificação desses serviços pode trazer uma perspectiva completamente diferente aos conceitos de preservação de um lado e de inclusão social do outro. Começo a constatar que a visão sobre as populações da floresta está deixando de ser assistencialista para tornar-se uma atitude de parceria na manutenção dos serviços ambientais. Olhe que beleza se os povos da floresta tivessem como vocação ser guardiões da floresta e, com isso, cuidar da manutenção da vida no planeta!

DM - Quando o Fórum Amazônia Sustentável foi fundado, você disse que o Brasil tinha menos de cinco anos para demonstrar sua capacidade de governança sobre a Amazônia. Agora esse prazo foi reduzido para quatro anos. Você está mais otimista ou ainda muito preocupado?

RY - Eu estou muito preocupado. Um ano de trabalho ainda foi pouco. O problema é muito simples: se o Brasil não provar sua capacidade de governança sobre a Amazônia a questão amazônica vai tornar-se tão explosiva quanto a do petróleo na década de 1970, que perdura até hoje. E a disputa territorial, que é um problema que o Brasil jamais viveu, pode transformar-se num grande pesadelo. Na medida em que a Amazônia vai assumindo uma importância mundial crescente e o Brasil não exerce sua soberania, deixando que a governança fique nas mãos de criminosos, os quais não têm compromisso com ninguém, pode haver conluios entre atividades econômicas marginais, tornando muito possível o surgimento de conflitos. Não podemos ficar presos a pequenas políticas, a uma pequena visão. É preciso criar as condições de governança com foco em sustentabilidade.

DM - O Fórum Amazônia Sustentável, como espaço de diálogo, já cumpre seu papel?

RY - O fórum se mostra um espaço legítimo e seguro para que isso seja feito. Ele ainda não expressa todo esse potencial, porque organizações importantes ainda não são signatárias. É preciso, principalmente, que mais empresas se aproximem e que as organizações que já são membros participem mais ativamente.

* Especial para o Instituto Ethos.

(Agência Envolverde)

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