sábado, 6 de dezembro de 2008

Folha - Amazônia não é parque da Europa, diz Jobim

Por SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Para ministro da Defesa, não se pode pensar em preservar floresta apenas para o "deleite de europeus"

A Amazônia não é parque de europeus, e colocá-la sob a agenda estrangeira pode empurrar para a ilegalidade 20 milhões de brasileiros que vivem ali. A afirmação é do ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, e foi feita ontem, durante evento em Washington sobre o futuro das relações Brasil-EUA sob Barack Obama.

"Não há que se pensar que nós podemos preservar a Amazônia para o deleite de europeus que desejam ver e fazer uma espécie de parque de árvores para as sua visitas de fim-de-semana ou para passeio deliciado com seus netos", afirmou o brasileiro, depois de dizer que tinha jogado fora o discurso preparado por sua assessoria e falaria de improviso.

Para Jobim, a região tem uma agenda ecológica produzida fora do país. "Isso nos coloca naquele conflito radicalizado", em que "os preservacionistas absolutos acabam empurrando uma população de mais de 20 milhões de pessoas para a ilegalidade". Jobim participava de mesa com Thomas Pickering, ex-vice-secretário de Estado.

Ele passou os dois últimos dias em encontros com o secretário da Defesa norte-americano, Robert Gates, e o futuro conselheiro de Segurança Nacional de Barack Obama, o general reformado James Jones. Os EUA estão interessados na compra que o Brasil fará de caças para a Força Aérea Brasileira, em que a Boeing norte-americana é uma das finalistas.

"O Brasil sabe claramente que a floresta amazônica é uma necessidade e um benefício do mundo, e o Brasil sabe que compete a ele preservar esse espaço a bem do mundo e próprio, mas é ele que vai preservar, numa política definida por ele", disse.
Para conseguir isso, disse o ministro, "temos de ter a capacidade de dizer não. E para fazer isso precisamos ter a capacidade dissuasória de Defesa". Esse era, afirmou, um dos motivos de sua viagem. "Essa é a razão que dissemos com clareza ao Robert Gates".

Segundo o ministro, os EUA têm interesse em participar da renovação da FAB, mas é reticente em transferir tecnologia de seus armamentos. "Se essa resposta não for dada, a conversa não continua", disse Jobim.

No fim, sobrou ataque para o Itamaraty. Aos diplomatas Jobim disse que deixaria a definição da parceria com os EUA, "seja o nome que quiserem dar". "Isso os nossos companheiros do Itamaraty saberão tratar, porque em advérbio de modo e adjetivo eles são de uma competência absoluta".

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