sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Envolverde - Conferência debate novos modelos de desenvolvimento para a Amazônia


Por Antonio Fausto, do Museu Goeldi

Agência Museu Goeldi - A aliança entre os saberes tradicionais e científicos foi a tônica da exposição do pesquisador José Luiz Martins do Nascimento, da Universidade Federal do Pará (UFPA), que aconteceu na manhã da quarta-feira, dia 3, na programação da Conferência do Subprograma de Ciência e Tecnologia (SPC&T) Fase II/PPG7, que tem lugar no Hotel Hilton, em Belém (PA), até a quinta-feira, dia 4. O evento reúne pesquisadores, gestores públicos, bolsistas e representantes das comunidades envolvidas nas pesquisas apresentadas para debater a realidade amazônica.

Durante a conferência, os coordenadores das sub-redes de pesquisa, que englobam projetos financiados pelo Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), apresentaram os resultados dos estudos desenvolvidos nos seguintes eixos temáticos: gestão de recursos naturais, ecologia e manejo de recursos aquáticos, produtos madeireiros e não-madeireiros e recuperação de áreas degradas. Professor da UFPA, José Luiz do Nascimento coordena a sub-rede de pesquisa “APAFBIO: Aproveitamento de plantas amazônicas como fontes de biodefensivos”, e apresentou as conclusões de dois anos de análises na mesa redonda “Produtos madeireiros e não-madeireiros da Amazônia”, que contou com o especialista Milton Kanashiro, da Embrapa Amazônia Oriental, como moderador.

A APAFBIO trabalha no sentido de transformar o timbó e o cipó de alho, espécies de vegetais que apresentam potencial biocida, em produto inseticida – ou biodefensivo - que venha a colaborar para a agricultura familiar desenvolvida na comunidade Jararaca, localizada a 30km do município paraense de Bragança, nordeste do estado. “A intenção é gerar conhecimento científico com base no popular”, afirma Nascimento, cuja sub-rede abriga seis projetos, dentre eles “Biodisponibilidade e avaliação química dos componentes voláteis do cipó de alho (Mansoa alliacea)”, de responsabilidade da botânica Maria das Graças Zoghbi, do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG).

Além de inseticida, o cipó de alho apresenta também propriedade medicinal. “Vários componentes químicos encontrados no óleo essencial dessa espécie de cipó d’alho apresentam atividades biológicas importantes para a saúde humana”, explica Graça Zoghbi. Multifuncional, esse cipó ainda é empregado pelos caboclos amazônicos para afugentar superstições como “mau olhado” e “quebranto”.

O professor José Luiz do Nascimento informou, durante sua apresentação na conferência, que o inseticida elaborado por meio do cipó de alho plantado na própria comunidade já está em fase de finalização e deve ser entregue aos moradores de Jararaca ainda neste mês de dezembro. “Além da entrega, vamos ensiná-los também a manusear as plantas para o preparo do biocida, de maneira simples”, finaliza o coordenador da sub-rede APAFBIO.

Debate – A mesa redonda “Produtos madeireiros e não-madeireiros da Amazônia” contou, ainda, com explanações de João Olegário de Carvalho, da Embrapa Amazônia Oriental, e José Eduardo Lahoz Ribeiro, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), coordenadores das sub-redes “MANFLOR: Manejo e conservação de recursos florestais madeireiros e não-madeireiros” e “UATUMÃ: Diversidade vegetal e de moléculas bioativas na Reserva Biológica do Uatumã, Amazônia Central”, respectivamente.

Realizada com vistas à conservação e ao uso sustentável da região amazônica, a conferência trouxe Joberto de Freitas e Alaíde Braga, representantes do Serviço Florestal Brasileiro, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), e do Comitê de Julgamento do Edital MCT/CNPq/PPG7 48/2005, respectivamente, para debater com os palestrantes sobre os resultados expostos na mesa redonda. Para Joberto de Freiras, é necessário “colocar em prática o discurso de que a floresta tem que ser usada de forma sustentável, produzir conhecimento científico voltado para o uso da florestal”.

Alaíde Braga, que integra o Comitê de Julgamento do Edital ao qual foram submetidas as propostas de formação das sub-redes que expõem seus resultados na conferência, afirmou que o financiamento do PPG7 proporcionou uma maior interação e comunicação entre os pesquisadores, o que representa ponto positivo. “Vai permitir o surgimento de outras idéias”.

Conservação rentável - “Gestão e Recursos Naturais da Amazônia” foi o tema da mesa redonda que aconteceu na manhã de terça-feira, dia 2, primeiro dia da Conferência do Subprograma de Ciência e Tecnologia (SPC&T) Fase II/PPG7. Da discussão, participaram os coordenadores das sub-redes CONSERVAMAZÔNIA, Philip Fearnside, do INPA; HIDRO-PURUS, Andrea Viviana Waichman, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM); e sub-rede H2O LIMPA, sob a responsabilidade de Wanderley Rodrigues Bastos, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Propor ações inovadoras de desenvolvimento para a Amazônia, pautadas pela sustentabilidade, foi, mais uma vez, o principal assunto levantado nas apresentações. Temas como o seqüestro de carbono, a gestão das águas amazônicas e o alto poder de barganha desse recurso hídrico foram abordados na mesa redonda. Professora da UFAM e coordenadora da sub-rede “HIDRO-PURUS – Os efeitos das intervenções antrópicas na Bacia do Purus: as funções ambientais, atores sociais e gestão das águas na Amazônia Legal”, que visa a compreender a dinâmica sócio-cultural nessa Bacia, localizada no Amazonas e alvo das políticas de conservação, Andrea Waichman mencionou a urgência do que convencionou chamar de “conservação rentável”.

“Falta criatividade para o desenvolvimento na Amazônia”, avisa a pesquisadora, que coordena os estudos desenvolvidos pela UFAM, Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade da Amazônia (Unama), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (Ita), cujos resultados foram expostos na ocasião.

O estabelecimento de um indicador que aponte qual a relação entre o desmatamento e a qualidade da água nos rios e a venda do ciclo hidrológico da Amazônia, responsável por 70% das chuvas que caem no sul e sudeste, para essas duas regiões, constituindo um pagamento por serviço ambiental, foram duas das proposições da sub-rede HIDRO-PURUS para um novo modelo de desenvolvimento na região. “Temos que pensar no que ainda não se pensou”, disse a coordenadora.

Programação – A conferência encerra na manhã dessa quinta-feira, dia 4, com a realização da mesa “Redes de Pesquisa do SPC&T Fase II na Amazônia: Políticas e Instrumentos de Fomento”, a partir das 8h30 da manhã, no Hotel Hilton, à Avenida Presidente Vargas, em Belém (PA).

(Envolverde/Agência Museu Goeldi)

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