segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Folha - Apressar o passo

Artigo
Por MARINA SILVA

NOVOS NÚMEROS da taxa anual de desmatamento apontam aumento de 3,8% em relação a 2007, expressivamente menor do que as previsões. Estamos indo bem? Não, significa apenas que aprendemos a andar no rumo correto, mas precisamos apressar o passo. Afinal, são quase mais 12 mil km2 de floresta que se vão.
O alerta vermelho não pode ser desligado.

O desmatamento vinha em forte alta de 2001 a 2004. De 2004 a 2007, com o Plano de Combate ao Desmatamento, a taxa caiu 57%.

No final de 2007, as pressões para expansão da frente predatória e a falta de ações para consolidar práticas produtivas sustentáveis impediram que a tendência de baixa se mantivesse.

Para frear o repique e, ao mesmo tempo, avançar no estabelecimento de um novo status no combate ao desmatamento foram necessárias medidas administrativas e legais, tomadas pelo presidente Lula a partir do final de 2007: proibição de desmatamento nos 36 municípios com maior ilegalidade; recadastramento de propriedades e responsabilização da cadeia produtiva; reforço à fiscalização do Ibama, com apoio do Exército e da Polícia Federal; resolução do Conselho Monetário Nacional proibindo empréstimos para produtores em desacordo com as legislações ambiental e fundiária.

Unindo-se a organizações da sociedade civil, Estados e municípios, pessoas do Ministério do Meio Ambiente, da Polícia Federal, dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, da Fazenda, da Indústria e Comércio, da Defesa e da Ciência e Tecnologia agigantaram-se para além de suas obrigações funcionais no desmonte de quadrilhas, nas operações de fiscalização, na mobilização para ações integradas, na criação do sistema de detecção em tempo real, na obtenção da resolução do CMN.

O desmatamento aumentou, mas não o quanto se temia. A curva agora está descendente, ou seja, as medidas acertaram em cheio. E é preciso mantê-las, aperfeiçoá-las e ampliá-las. O Plano de Combate ao Desmatamento tem que atravessar o tempo de governos e interesses específicos e atingir o tempo da nação.

Ainda há motivos para preocupações. A degradação provocada pelo fogo foi excepcionalmente alta, e a movimentação intensa para alterar o Código Florestal traz, por parte de alguns, a intenção de flexibilizar perigosamente as regras.

É necessário não se deixar levar por demandas pontuais, perdendo o esforço feito até aqui. É como se soltássemos a direção do carro à beira do abismo. Só que neste carro está a maior biodiversidade do planeta e todo o ganho econômico, social e ambiental que ela, bem gerida, pode dar ao país.

*MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.

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