sexta-feira, 7 de março de 2008

OESP - Plano para controle do desmatamento emperra

Por Cristina Amorim

Levantamento do Greenpeace mostra que mais de dois terços das 32 ações previstas pelo governo, há quatro anos, não saíram do papel

Quem acompanha a recente discussão sobre o desmatamento na Amazônia pode não lembrar, mas o governo federal - na figura de 11 ministérios - desenhou um complexo plano para controlar o problema há quatro anos. Só que ele pouco caminhou desde seu lançamento, indica uma análise feita pela ONG Greenpeace e divulgada ontem.

Menos de um terço (10) das 32 ações estratégicas previstas em 2004, quando o plano foi lançado, foi implementado até julho de 2006 - entre elas, apenas três dentro do cronograma. Onze foram parcialmente executadas e 11 nem saíram do papel.

As ações são desmembradas em 162 atividades em três eixos. O primeiro, ordenamento fundiário e territorial, apresenta a maior taxa de sucesso: metade foi executada. Mas isso não significa sucesso de fato, diz o coordenador do trabalho, Marcelo Marquesini.

Foram criadas unidades de conservação em regiões de avanço do desmatamento, como na Terra do Meio, no Pará, e ao longo da BR-163 (Cuiabá-Santarém). Entre elas ainda existem “parques de papel”, que não foram demarcadas nem têm um plano de manejo.

Já o zoneamento ecológico-econômico (ZEE), preparado pelo governo federal, não é usado para formular políticas de desenvolvimento na Amazônia, lembra Marquesini. O mesmo acontece com modelos de mudança no uso da terra, de acordo com diferentes políticas públicas. A atividade foi executada; o trabalho, pouco ou nada aplicado na prática.

METAS

Nos últimos três anos, quando foi registrada uma queda no ritmo do desmatamento, o eixo de monitoramento e controle foi indicado como causa importante pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. (Com o repique observado nos últimos meses do ano passado, a responsabilidade dessas ações foi minimizada.)

O Greenpeace afirma que, das sete ações estratégicas, apenas duas foram executadas: o aprimoramento dos sistemas de observação por satélite e a revisão de portarias, resoluções e instruções normativas relacionadas com licenciamento ambiental.

Já no eixo de fomento às atividades sustentáveis - a parte que trata de diminuir a ilegalidade e estimular atividades sustentáveis - apenas 24% das ações foram cumpridas, afirma a ONG. Mesmo contando os recentes avanços nesse eixo, como exigências adicionais para a concessão de crédito rural na Amazônia, criadas pelo Conselho Monetário Nacional na semana passada, ainda há um longo caminho a ser trilhado.

“O plano não é de todo ruim, mas precisa ser totalmente implementado e aprimorado”, afirma Marquesini. “É preciso adotar uma meta de redução da taxa do desmatamento. O Bolsa Família tem meta. A reforma agrária também. Para o desmatamento, não há meta real.”

A avaliação que o Greenpeace faz não difere muito de outra análise do plano, feito pela Casa Civil, que coordena os trabalhos. Como o Estado adiantou em janeiro, o trabalho detectava limitações, como dispersão de recursos e falta de indicativos quantitativos. Procurada pela reportagem, a Casa Civil, por meio de sua assessoria de imprensa, avisa que “não irá se manifestar sobre o relatório do Greenpeace” e que “este tema pode ser analisado pelo Ministério do Meio Ambiente, que tem competência para tal”.

O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco, afirma que a meta do governo federal é “desmatamento ilegal zero” - ainda que no plano a questão apareça como alvo de desestímulo, não de eliminação. “Está tudo perfeito? Claro que não. Mas a responsabilidade do governo é bastante clara, de redução e controle do desmatamento, e estamos trabalhando para estimular uma transição para a legalidade”, diz Capobianco.

Segundo ele, uma série de ações que foram tomadas nos últimos anos só apresentará resultado a partir de 2008. O melhor exemplo é a gestão de florestas públicas, que dependeu da formulação da lei, sancionada em 2006 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que aguarda o resultado da primeira licitação.

Para o secretário-executivo, todos os 11 ministérios envolvidos no plano trabalham em parceria. “Existe uma tendência a creditar ao MMA os maiores resultados. Isso não é verdade”, afirma. “Os resultados dependem da articulação do governo e de um plano político mais amplo. É o que dá tranqüilidade, por exemplo, para o presidente tomar a atitude de criar unidades de conservação daquela magnitude.”

“A tarefa é maior do que um governo. É preciso envolver a sociedade”, diz o diretor da campanha Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário.

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