sexta-feira, 7 de março de 2008

Envolverde - Madeireiro da Amazônia denuncia perseguição


Por José Rebelo dos Santos
Artigo

Senhores!

Seria justo e conveniente que a imprensa brasileira e os órgãos competentes olhassem para a Amazônia com outros olhos, principalmente em relação ao corte de madeira.
Hoje devem viver direta e indiretamente 15 a 20 milhões de pessoas dos benefícios da madeira na Amazônia. É mais gente que em muitos países da Europa.

Países europeus, conhecidos como 1º mundo, ou países ricos, como a Finlândia, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, entre outros.
Estes povos que trabalham com madeira na Amazônia são vistos pelas autoridades brasileiras, e pela imprensa, como assassinos, vigaristas, mal feitores e exploradores.
E por que isso acontece? Por que estão a cortar árvores. Essas árvores são na Amazônia e o mundo diz erroneamente que a Amazônia é o pulmão do mundo. Já está provado que é um engano. A Amazônia consome 65% do oxigênio que liberta.
O oxigênio do planeta é produzido nas grandes quantidades de água, nos oceanos. É ali que ocorre a evaporação e a condensação, que se espalham por todo o planeta com os ventos e promovem a renovação do ar.

Por favor, olhem o mapa do mundo e vejam o que é a Amazônia no planeta. Vão verificar que 2/3 do planeta são oceanos e não de mata amazônica. A Amazônia no planeta é pequena demais para alimentar o planeta.
Pelo amor de Deus, os madeiros são seres humanos que têm uma vida horrível na mata. Mesmo àqueles que vivem nas cidades – a maioria paupérrima e sem o conforto de teatros, cinemas, escolas, luxo, shopping – são negados os confortos mínimos.

Semana passou se iniciou uma fiscalização maciça – piada? – no município de Tailândia, no Pará. Ali há uma grande concentração de serrarias. A tal fiscalização foi feita pelo Ibama, a Sema e outros órgãos governamentais. E o que fizeram lá¿ Muita loucura. Apenas isso.
A cidade parou. Carregavam caminhões com madeiras que esses órgãos consideravam ilegal para leiloarem em Belém e, posteriormente, a verba arrecadada seria repassada a tais órgãos.

Se a madeira é ilegal, como podem vendê-la? É mentira. A madeira estava certificada pelos órgãos fiscalizadores e seus donos pagaram os impostos.
Sabemos que a verdade é uma só. Os fiscais ficaram felizes porque iam ganhar uma fortuna com as centenas de metros cúbicos de madeiras apreendidas.

Uma dessas empresas afetadas pela fiscalização havia pedido há meses autorização para extrair a madeira. Como o pedido nunca saia, a empresa precisava trabalhar e o que fez Entrou na mata e recolheu a madeira. A mata onde se retirou a madeira não foi danificada. Fizeram corte sustentado. Se essa empresa tivesse dado as gratificações já teria as autorizações.
As serrarias começaram despedir centenas de empregados. Elas não tinham outra saída. Não tinham mais bens para trabalhar.

Aí foi uma revolta total. Os fiscais se fizeram de coitados. O povo estava revoltado porque ação tirava deles o sustento. Será que esse povo da Amazônia é todo malandro?
Houve tropa de choque, bombas, balas de borracha, barricadas. A cidade na estrada principal era um autêntico campo de batalha. Os trabalhadores não deixaram sair à madeira que os órgãos queriam confiscar dos patrões. E porque não deixavam? Eles sabem muito bem do que iam fazer os corruptos: ganhar comissões.

Na lógica desses fiscais os madeireiros são todos ladrões, vigaristas.

A realidade, entretanto, não é essa. A população está sendo usada por imediatistas e aproveitadores. Têm se informações de que órgãos de fiscalização têm métodos para beneficiar os amigos nos leilões.
Então se a madeira não pagou os impostos para ser legal, vai a leilão e já é legal? É uma piada.


Os madeireiros são seres humanos lutadores.

Tailândia é uma cidade onde a maioria das pessoas vive do corte da madeira. Em outras cidades da Amazônia também é assim: grande parte da população vive da extração da madeira. Quando a fiscalização chega a lojas fecham, o mesmo acontecendo com as serrarias e as carvoeiras. Os fiscais confiscam seus bens, levam pânico e medo às pessoas, e os empregados são obrigados a reagir para manter seus empregos.

Para completar, ainda se tem o fato de a polícia ser corrupta. Muitos policiais ficam na estrada à espera de caminhões para multar e subornar trabalhadores que, em condições desumanas e sem equipamentos, ficaram vários dias na mata para cortar de 3 a 5 árvores.

O povo do Sul do Brasil precisa conhecer a verdade. Saber que está sendo manipulado pela imprensa, que faz o jogo dos países ricos. É preciso que fique claro: os países ricos não querem que a Amazônia cresça, seja povoada, e que os madeireiros cortem árvores para sobreviver.

Eles querem, sim, é continuar a cada dia mais ricos, poluírem sem sacrifícios dos seus confortos. E o que resta ao Brasil¿ Ser impedido de crescer e obrigado a limpar o que eles (os ricos) sujam e poluem em seus países. É essa a triste realidade, que a imprensa não fala.

Então, os madeireiros vão viver do que?
Os países ricos não querem fazer sacrifícios, querem sujar e o Brasil limpar?
O povo da Amazônia vai apanhar por que os americanos querem?

Por favor. Isso é tudo uma manipulação orquestrada a partir dos Estados Unidos devido à enorme riqueza que há na Amazônia.

A imprensa precisa conferir o que fez um grande grupo americano no Pará num projeto conhecido no Brasil como Jari. Muitos julgam ser esse projeto um orgulho nacional. Os jornalistas precisam ir lá para ver o que eles fizeram no Jari.

Ali, os americanos arrancaram mais de dois milhões de hectares de florestas nativas. No lugar, eles plantaram eucalipto e pinho trazidos da Costa Rica. Tudo isso para alimentar uma indústria de celulose.

Esses são ecologistas? Pinho e eucalipto da Costa Rica?
Por favor, vamos ser realistas. O Brasil é uma Nação soberana. Aqui ninguém é palhaço. Vamos lutar pela nossa dignidade.

Muitas das ONGs que estão no Brasil – nomeadamente na Amazônia – têm algum interesse escuso por trás. Mas, ressalte-se, nem todas ONGs agem assim. São poucas as com finalidades honestas.

Na cidade de Porto de Mós, no Pará, há ONGs que dizem lutar pelo povo da Amazônia. Mas o que fazem são orgias com menores de idade. Isto é o que? O mesmo ocorre em Belém nas noites esses senhores se vangloriam das brasileiras com quem transam.

Chega de nos enganarem. O povo quer (e precisa) ser respeitado.

O povo de Tailândia saiu ás ruas para exigir respeito das autoridades. O povo está revoltado porque, diariamente, centenas de trabalhadores são escorraçadas da Amazônia como se fossem bandidos. Chega!

Os jornalistas sérios já foram na Amazônia ver os projetos de reflorestamento que existem? Existem muitos, e imensos. Mas, infelizmente, a imprensa não conhece e fica a divulgar mentiras a respeito dos madeireiros.


Reflorestar é a saída

Na Europa, a Finlândia é um dos maiores exportadores de madeira do mundo. Para exportarem eles também desmatam. Mas também reflorestam. É uma educação desde a infância nas escolas. E tudo isso é valorizado e apoiado pelo Estado finlandês.

E o que acontece no Brasil Os livros das escolas mencionam que os madeireiros são inescrupulosos, que só visam o lucro. Quando vamos para o Sul da nossa Pátria temos medo de dizer que somos madeireiros da Amazônia. Se falarmos será logo mal visto.

O que os americanos querem da Amazônia é a imensa riqueza que tem o solo. O americano não quer diminuir a poluição em seu país para não atrapalhar a riqueza gerada pelas indústrias poluidoras deles. Não assinam o Tratado de Quioto. Você em sã consciência acha que eles querem o bem do Brasil, ou do mundo?

Os Estados Unidos é um país que só vive de provocar guerras. Mais de 25% da economia americana é movimentada pela indústria do armamento. Eles (os americanos) precisam de guerras para continuar com o conforto, o luxo e a ostentação que tem.
Há bastante se ouve os americanos pedirem a internacionalização da Amazônia.

Para proteger a Amazônia? Lógico que não! Eles querem é ficar com um pedaço de terra aqui. Quem retirar as riquezas – e não é a madeira que eles querem – mas os recursos minerais.

Os americanos estão a comprar fazendas enormes com mais de 150 mil hectares na Amazônia. Multinacionais como a Microsoft, também. É uma clara demonstração de que eles, os americanos, têm, de fato, grande interesse pela Amazônia.

Precisamos reagir. Não podemos ir na onda deles, a favor dos interesses deles. Possuímos meios maciços de inverter a opinião pública e esclarecer as verdades.

A imprensa brasileira tem que conhecer a realidade dos madeireiros do Brasil. Os jornalistas e os jornais não podem ir ao embalo que os países ricos querem.

E é bom que se esclareça: o madeireiro da Amazônia só corta árvores de grande porte – àquelas com diâmetro para ter interesse comercial. A mata amazônica não é formada por àrvores sempre do mesmo porte, como ocorre nas plantações eucalipto e pinho no Sul do país.

Na Amazônia, as árvores de grande porte não são uniformes. Eles ficam a uma distância de cem ou quinhentos metros umas das outras. O madeireiro da região só extrair as de grande porte, ficando centenas de menores sobrevivem. Só se corta todas as árvores de uma determinada área nas seguintes situações:

* O criador de gado pede para limpar a área para semear capim para seu gado. Aí o madeireiro corta as árvores que lhe interessam, e o que sobrar, é cortado pelo carvoeiro para fazer carvão. O carvão é vendido posteriormente para as siderúrgicas.

* O agricultor faz o mesmo processo porque precisa ter o terreno limpo para promover a agricultura.

Agora, estão também a destruir os fornos de carvão. Ora, se há carvão é porque alguém precisa do produto. Produzir carvão é trabalho mais humilde e também mais insalubre. Mesmo assim, centenas de pessoas desempregadas se arriscam a produzir carvão. E, agora, que destruíram as carvoarias, o que eles vão fazer? Vão roubar ou terão alternativa?

A imprensa brasileira precisa abrir os olhos e ver a realidade do povo sofrido da Amazônia. Deve esclarecer a verdade e mostrar aos brasileiros que os países ricos estão querendo engessar o Brasil, condenar a Amazônia ao atraso.

A situação da Amazônia é muito mais complicada e simples ao mesmo tempo. Então, vejamos:

A burocracia governamental complica e emperra a concessão de autorização para cortar madeira legalmente. Percebe-se, de forma clara, que os esquemas são montados para haver confusão e não clareza. Havendo confusão é possível gerar fortunas aos corruptos; se houver clareza, não é fácil para os corruptos.

Para cortar madeira na Amazônia é preciso ter um projeto assinado por um engenheiro florestal. Depois de pronto, esse projeto é enviado ao Ibama e o madeireiro é obrigado a esperar que eles se pronunciem. Quando se tem sorte, a resposta sai em seis meses. Se o madeireiro der comissão sai rápido. Alas, se não der comissão (propina) a coisa complica. Como se vê, a vida do madeireiro é uma aventura. Tem que fazer projeto caríssimo, pagar comissão, e só depois é que pode cortar àrvores para madeira.

Como trabalhar numa situação como essa? O madeireiro faz tudo para cumprir a lei, mas o Ibama não cumpre sua parte. Eles, os madeireiros, têm que trabalhar. São empresários e não funcionários públicos – estes recebem o salário no fim do mês, mas se não trabalhar; o empresário madeireiro, não.

Querem que o madeireiro refloreste? Então, definam qual é a espécie que deve ser utilizada. Fazendo isso, os pequenos cortadores de madeira podem reflorestar, quando necessário. Mas, infelizmente, não há esclarecimento ou qualquer apoio ao madeireiro. Só há castigo, medo e repressão. É a velha cultura do Terceiro Mundo: não ensinar, reprimir.


Venda de autorizações


A situação no Ibama chega a ser constrangedora. Em muitas cidades da Amazônia os projetos de madeiros só são liberados quando estes, sem qualquer saída, são obrigados a pagar comissões (propinas) dentro do Ibama, ou até mesmo em outros órgãos.

Pessoas do Ibama, ou ligadas ao órgão, vendiam, há dois anos, autorizações a madeireiros por R$ 8 para cada metro cúbico retirado. Agora, cada autorização dessas sai por R$ 180 o metro cúbico. Essa vergonhosa inflação é resultado das novas normas do Ibama e outros órgãos.

Esse quadro só complicou a vida dos madeireiros. E, hoje, muita gente faz fortuna com projetos. Muitas vezes, pessoas do Judiciário e do Ministério Público também se envolvem nessa trama contra os madeireiros.

Um madeireiro na região de Santarém (PA) vendeu projetos de autorizações. Faturou de R$ 6 milhões. Ganhou essa fortuna vendendo apenas documentos. O madeireiro fechou sua serraria e continua vendendo projetos para o Ibama. Alguns funcionários do órgão fazem parte do esquema.

Como os pequenos serradores não podem pagar por um projeto desses, são penalizados. Tudo porque, em alguns casos, os documentos do Ibama valem mais que a madeira. É uma vergonha. O madeireiro tem de trabalhar para comprar um papel de terceiros. O pequeno não consegue nada do Ibama; nem apoio para reflorestar.

E como resolver esse drama¿ É simples. Cortou tem que reflorestar. O pequeno cortador de madeira é uma pessoa humana. Se esclarecido, ele terá prazer em reflorestar. Eles não são burros; são gente. O problema é que não há qualquer apoio nesse sentido. Só existe noticias e boatos espalhando. A ameaça é a mesma: prisão, apreensão da madeiras e dos equipamentos.

Aqui temos um exemplo. Há dias, quatorze carregados de madeira foram parados numa estrada de terra a dois quilômetros do asfalto. Ficaram ali durante seis horas e, depois, foram extorquidos por policiais rodoviários federais. Ninguém passa nas barreiras sem pagar propina. Só passam direto aqueles cujos patrões já deram dinheiro ou combustível aos policiais. Um exemplo disso é a região de Almeirim, no Pará.

A corrupção corre solta. Na zona de Porto de Móz (PA) um madeireiro se recusou pagar propina a fiscais do Ibama. Resultado: teve seus bens confiscados – madeira, máquinas e, depois, fugiram como fazem os foras da lei. É preciso se dar um basta nisso. Mas, infelizmente, a imprensa brasileira não investiga isso. Pelo contrário. Os meios de comunicação fazem é acusador os madeireiros como malfeitores do Brasil.

Na Europa a pessoa corte árvores sem autorização. A situação no Brasil é diferente. Para cortar uma árvore na Amazônia a pessoa tem que se sujeitarem os caprichos do Ibama ou pagar propina a funcionários. Se não fizer isso, poderá ser vai preso por cortar uma árvore. E ainda será obrigado a conviver com cruéis assassinos. É revoltante. Somos enganados e ninguém vê?

Somos manipulados por interesses internacionais. Os americanos estão rindo de nós. Tudo porque o Ibama facilita as coisas para que o caos aconteça; e, com isso, muita gente enche os bolsos com produto da corrupção.

Chega de o madeireiro ser humilhado e enganado. Madeireiro não é assassino; é trabalhador como qualquer outro. Madeireiro quer viver, alimentar aqueles que dependem deles. A imprensa brasileira precisa se conscientizar disso. O brasileiro tem de conhecer a verdade real da Amazônia e não aquela que as ONGs querem mostrar.


Ministra é usada

Reconhecemos que existe desmatamento na Amazônia. Mas, infelizmente, temos também que reconhecer que até a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, está sendo usada por organismos internacionais para prejudicar os pequenos da Amazônia. E por que isso acontece¿ Pelo fato de o Brasil possuir tecnologias para energia limpa, como é o biodiesel.

A pressão contra a Amazônia ficou mais forte depois que o Brasil anunciou que irá produzir biodiesel e plantar cana-de-açúcar. Os magnatas dos combustíveis estão preocupados e vão fazer de tudo para impedir o Brasil progredir. E já estão espalhando que o biodiesel vai devastar a Amazônia. Mas tudo mentira. Atualmente, 80% dos canaviais para produção de biodiesel estão em São Paulo.

Todas essas mentiras são espalhadas porque o Brasil incomoda como álcool, o biodiesel, com os minérios, com a agricultura e com seu rebanho bovino.

A exportação de madeiras do Brasil movimenta US$ 20 bilhões anuais. O fato incomoda as indústrias de madeireiros da Finlândia e do Canadá. Ali, os cortadores de madeira são bem vistos e não humilhados. Eles têm apoio governamental, bancário, educação e orientação. O Brasil deve fazer o mesmo. Precisa valorizar os madeireiros e educar o povo para não massacrá-los.

Se a imprensa brasileira não sabe, existem cidades na Amazônia onde os estudantes orientam as pessoas a não jogar lixo no chão. É tudo questão de consciência nacional.

Somos brasileiros trabalhadores. Por favor, deixem de nos massacrar. A imprensa deve mostrar a realidade da Amazônia e deixar de massacrar quem trabalha.

Deixem de bater injustamente povo BRASILEIRO DA AMAZÔNIA. Somos Brasil. Façam Justiça.


* José Rebelo dos Santos é madeireiro.

(Envolverde/Agência Amazônia)

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