quarta-feira, 5 de março de 2008

Folha - Lula minimiza trabalho degradante no país

Por MAURÍCIO SIMIONATO
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Presidente afirmou que durante a Revolução Industrial o trabalho "era muito mais penoso" do que nas usinas de cana

Na sede da Embrapa, em Campinas, ele rebateu as críticas feitas por países da Europa ao desmatamento registrado na Amazônia

Ao defender o crescimento econômico do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu ontem, em Campinas (95 km de SP), países europeus que criticam o desmatamento na Amazônia. Lula ainda minimizou ocorrências de trabalho análogo à escravidão no país.

"Vira e mexe, agora virou moda ir para um debate na Europa e alguém ficar dizendo que nós estamos desmatando a Amazônia, não tem nem noção do crescimento da produtividade brasileira nos últimos 15 anos", disse na sede da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Logo em seguida, Lula se referiu à Revolução Industrial, ocorrida na Europa no século 18, para minimizar casos atuais de trabalho análogo à escravidão em usinas de cana.
"Vira e mexe, nós estamos vendo eles falarem do trabalho escravo no Brasil, sem lembrar que o desenvolvimento deles, à base do carvão, o trabalho era muito mais penoso do que o trabalho na cana-de-açúcar."

O trabalho degradante ou análogo à escravidão é combatido desde 1995 pelos grupos móveis do Ministério do Trabalho e Emprego. Só em 2007, período de atuação mais intensa, foram 5.877 libertações ou resgates. Conforme a Folha revelou em fevereiro, 53% das libertações ocorreram em usinas de cana (3.117 pessoas).

No ano passado, Lula tornou o álcool combustível uma de suas principais bandeiras, classificando os usineiros de "heróis mundiais". Mas, apesar dos esforços do presidente em promover o etanol, as exportações caíram 14% em 2007, para 3,2 bilhões de litros.

Mesmo assim, com apoio do governo, o setor sucroalcooleiro continua crescendo. Segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar), a área plantada com cana saltou de 7 milhões de hectares em 2006 para 7,8 milhões hectares no fim do ano passado. A estimativa para a produção de cana na safra 2007/08 é de 487 milhões de toneladas. Serão 22 bilhões de litros de etanol.

O setor também é um importante doador do PT. Em 2006, foram mais de R$ 2 milhões vindos de produtores de álcool.


Desmatamento

Em janeiro, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou dados sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) apontou como provável causa a pressão por aumento da produção de soja e carne. A Secretaria de Meio Ambiente do governo de Mato Grosso contestou.

Na ocasião, Lula anunciou medidas emergenciais contra o desmatamento, mas criticou o "alarde" na divulgação do estudo. No fim de fevereiro, o governo lançou a Operação Arco de Fogo, que mobilizou forças federais no combate ao desmatamento e comércio ilegal de madeira na Amazônia Legal.

Ontem, ao citar o desmatamento e o trabalho degradante, Lula pediu "responsabilidade e maturidade" aos brasileiros no momento em que forem falar do país. "Cada vez que nós abrirmos a boca para dizer alguma coisa, isso não vai ter repercussão apenas internamente, vai ter repercussão lá fora."

Ele disse ainda que o Brasil deixou de ser "aquele país bonito de samba, Carnaval e jogador de futebol" e passou a competir "com aqueles que detinham o domínio do mercado mundial".

Mais tarde, Lula inaugurou o Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes, também em Campinas. Ainda na cidade, visitou a Samsung, onde ganhou o novo celular com TV digital lançado pela empresa.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0503200811.htm

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