quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Desmatamento do Madeira será do tamanho de BH

Josette Goulart

Uma Belo Horizonte ou um terço da cidade do Rio de Janeiro ou metade da capital da Bahia, Salvador.

Essa será a dimensão da área que as concessionárias das usinas de Jirau e Santo Antônio, em Porto Velho, terão que desmatar na Floresta Amazônica rondoniense para a formação dos reservatórios das hidrelétricas que constroem na região. A área é maior do que estimativa inicial e a expectativa é de que cerca de 4 milhões de metros cúbicos de árvores e lenha sejam retiradas da região, volume que preencheria a carroceria de 154 mil caminhões.

Tamanha quantidade de material a ser retirado do local já traz preocupação para as concessionárias.

O presidente da Energia Sustentável do Brasil que constrói Jirau, Victor Paranhos, diz que na área de construção da usina já há grandes volumes de madeira estocada.

Paranhos diz que não é possível hoje se desfazer da madeira sem a segurança de que ela não será usada para uma espécie de "lavagem de madeira".

Nas áreas a serem desmatadas pelas duas usinas, segundo os presidentes das duas concessionárias, já não existe mais madeira de boa qualidade. O presidente de Jirau teme que madeireiros ilegais possam usar o desmatamento a ser realizado na área das usinas para vender madeira ilegal como sendo da concessionária.

Isso poderia acabar se voltando contra as empresas que vão fazer o desmatamento. "Seria preciso certificar e rastrear essa madeira", diz Paranhos.

O Ibama, entretanto, não certifica madeira. Mas, segundo informações do instituto, equipes técnicas já estão nos pátios das usinas fazendo medições e verificando as espécies de árvores cortadas nas áreas de construção das hidrelétricas.

"O Ibama montou ainda uma operação especial de fiscalização para controle e acompanhamento do transporte da madeira extraída nos dois empreendimentos", informou o instituto por meio de sua assessoria de imprensa. "O Ibama tem a certeza de que essa madeira de origem legal irá frear a oferta de madeira ilegal no mercado e, dessa forma, contribuir para a redução do desmatamento na Amazônia." A área a ser desmatada pelas usinas, apesar de significativa, é de menor impacto ambiental que outras usinas hidrelétricas já construídas no país. Isso porque as duas usinas são a fio d"água, ou seja, sem grandes quedas na barragem.

Isso faz com que o volume de energia a ser gerado durante todo o ano seja menor, já que a água armazenada também é em menor volume. De qualquer forma, a área alagada é grande e o desmatamento se faz necessário para evitar que a madeira apodreça e emita gases nocivos na natureza.

As duas usinas do Madeira vão desmatar juntas 357 quilômetros quadrados e é uma extensão bem maior do que a prevista originalmente.

Em Santo Antônio, o presidente da concessionária, Eduardo Mello, diz que por causa de um ajuste de 50 centímetros na altitude do ponto de queda da usina feito pelo IBGE, depois de realizado o leilão, vai fazer com que a área a ser desmatada passe de 7,4 mil hectares a 14 mil hectares (140 km2). Isso também terá um custo extra para a concessionária, em torno de R$ 100 milhões.

O trabalho da preparação do lago também vai envolver a retirada de milhares de famílias da região. Como é o caso da família de Francisco Bezerra, que mora na Vila Teotônio, perto da cachoeira de mesmo nome, que vai desaparecer com o enchimento do reservatório de Santo Antônio.

Bezerra não está preocupado, entretanto, com o desmatamento ou mesmo com o fato de perder sua casa, hoje à beira do rio Madeira.

Ele está mesmo é faceiro com a caminhonete, "carrão", segundo ele, que comprou com o dinheiro da indenização que recebeu da Santo Antônio Energia.

"Achei que eu ia ganhar R$ 10 mil, recebi R$ 160 mil", diz Bezerra.

"Gastei R$ 70 mil na caminhonete, comprei ainda uma Parati e uma casinha em Porto Velho".

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