segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Resistência ao tratoraço

Por Redação Greenpeace

Com o rumo das eleições mais claro, também se delineia a força do tratoraço que a bancada da motosserra arma para arrasar as regras de proteção ambiental vigentes no Brasil.

Se no início da campanha eleitoral havia a expectativa de que a presença da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva puxasse o debate verde para fora das sombras, ela não se confirmou. A candidata do PV se viu obrigada a trafegar por outras searas. Nem o tema ambiental nem nenhum outro foi debatido de maneira apropriada – sem apresentar visões de Estado, os principais presidenciáveis colecionavam promessas e frases de efeito, em uma versão televisiva do Twitter e de suas verdades em 140 caracteres. Os dois candidatos que apresentavam as maiores taxas de intenção de voto – Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB) – não mostraram seus planos de governo.

O que fica para o Brasil após três meses de campanha é uma grande sombra pairando sobre o arcabouço legal ambiental. Legislação ambiental pode ser nada além de uma moeda de troca a partir de agora, a ser oferecida na bandeja de negociações.

O PMDB, do vice de Dilma, Michel Temer, sai revigorado pela parceria com o PT e pelos cargos-chave prometidos para o próximo governo. Esse mesmo PMDB, no início de 2010, era o partido com grandes interessados em afrouxar o Código Florestal, legislação que hoje protege nossas florestas. Resta-nos saber se essa é uma fatura que será liquidada ainda neste ano pelos aliados do governo, assim como descobrir o tamanho da sede de extirpar discussões ambientais dos corredores do Congresso.

O PV está distante de garantir que segura a onda. Marina Silva, que apesar de sair mais forte do que entrou neste pleito não será chefe de bancada, terá dificuldade de montar uma linha homogênea em seu partido.

Lula exercia uma certa taxa de arbitragem, mesmo que pouco afeito às questões ambientais. Dilma, por sua vez, ainda precisa provar que pode deixar de agir como uma executora e assumir a posição de chefe de Estado que o cargo exige. Seu histórico não é favorável ao ambiente e sua agenda de desenvolvimento nos moldes do século passado é preocupante.

O que ainda pode salvar a legislação ambiental de ser arrebentada pela bancada da motosserra é a rede de proteção que a sociedade civil pode formar, com o apoio de uma parcela grande e importante da população, que entende a importância de se manter o equilíbrio ambiental. Para isso, a liberdade de expressão – seja exercida pela imprensa ou pela sociedade civil organizada – deve ser assegurada. Resta saber se haverá espaço para a dissonância quando parece haver uma unanimidade contra a aceitação de críticas ao coro dos contentes.

Foto
Legenda: Ativistas barram passagem de madeira retirada da Amazônia
Crédito: Greenpeace
(Envolverde/Greenpeace)

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