quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Seca histórica na Amazônia atinge milhares e coloca cidades em emergência

A seca severa que atinge a Amazônia provocou baixas recordes no nível de rios da região, deixando comunidades isoladas dependentes de ajuda emergencial e milhares de barcos encalhados em leitos totalmente secos.

O nível do Rio Negro, afluente do Amazonas, caiu para 13,63 metros no último domingo (24), sua marca mais baixa desde o início das medições, em 1902, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM). No ano passado, o rio registrou seu recorde de alta, com 29,77 metros.

A escassez de água torna praticamente impossível a navegação, que é crucial em toda a região amazônica, em diversos pontos da região. "As pessoas estão sem comida porque os peixes estão morrendo sem água. Quase todos os barcos estão parados, só os menores conseguem navegar", diz Rosival Dias, coordenador da fundação ambiental Amazônia Sustentável.

De acordo com o governo do Amazonas, a situação de emergência afeta 62 mil pessoas em 33 municípios, e 600 toneladas de ajuda alimentar estão sendo distribuídas por avião e barco. O governo federal anunciou na semana passada a liberação de R$ 23 milhões em ajuda emergencial.

Produtores de soja que dependem do Rio Madeira, no estado do Amazonas, para a passagem das balsas de grãos, estão sendo forçados a desviar os carregamentos, com elevado custo, para os portos no Sudeste, que ficam a cerca de 2 mil quilômetros de distância.

Eleições

Autoridades expressaram preocupação de que a seca possa afetar até o comparecimento às urnas no segundo turno da eleição presidencial, no próximo domingo (31), e estão na dependência de embarcações extras capazes de navegar em águas rasas para levar eleitores às seções eleitorais. Em algumas áreas atingidas pela seca, cerca de 50% das pessoas votaram no primeiro turno, em 3 de outubro.

Alguns cientistas dizem que a seca deste ano pode ter sido exacerbada pelo fenômeno El Niño em 2009 e 2010 e por uma temporada de furacões ativa no Atlântico, que pode ter sugado umidade do sul.

Para o americano Daniel Nepstad, ecologista no Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia, a ligação entre esse fenômeno e a seca no Amazonas parece menos clara do que em 2005, quando ocorreu a última seca devastadora na região. "Acho que é motivo para alguma preocupação bem grande sobre o ecossistema da Amazônia", disse ele. "Estamos vendo uma quebra da confiabilidade das estações."

Ao derrubar árvores e tornar a floresta mais propensa a incêndios, as secas severas são parte do ciclo danoso que alguns cientistas acreditam possa levar a Amazônia mais para perto de um "ponto sem retorno", no qual a destruição se sustenta por si mesma. A devastação da floresta alimenta o aquecimento global porque as árvores liberam seu carbono quando morrem. A seca de 2005 liberou mais gás do efeito estufa do que as emissões anuais da Europa e do Japão, segundo estudo internacional revelado no ano passado.

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