quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Megaobras do Madeira caminham a todo o vapor

Josette Goulart De Porto Velho

Dois anos depois de os primeiros tratores terem começado a abrir espaço na Floresta Amazônica rondoniense para a instalação das usinas hidrelétricas do rio Madeira, as duas entre as maiores obras em execução no mundo caminham em ritmo frenético.

Com a pressão de antecipar o início da geração de energia para fazer dinheiro, dia e noite, de segunda a sábado, faça chuva ou faça sol, cerca de 33 mil funcionários circulam entre as centenas de quilômetros das estradas dos dois canteiros despejando toneladas e mais toneladas de concreto em meio à floresta. É tanta gente que, se fossem uma cidade, Jirau e Santo Antônio juntas teriam mais habitantes do que cerca de 60% dos municípios brasileiros.

A pressa é maior na usina de Jirau, que tem como principal sócio o grupo GDF Suez e é erguida pela construtora Camargo Corrêa. Mesmo tendo sido leiloada meses mais tarde e ainda marcada por uma importante alteração da engenharia com a mudança do eixo de construção, Jirau se aproxima a galope de Santo Antônio. A Camargo já concluiu 26% das obras civis da usina. Esse percentual chegará a 36% até o fim do ano. A Odebrecht, que junto com a Andrade Gutierrez constrói e é sócia de Santo Antônio, deve aprontar pouco mais que 40% até dezembro e hoje tem 35% das obras concluídas.

Para trabalhar tão rápido, a Camargo Corrêa vai começar a produzir uma piscina olímpica de gelo por dia, para resfriar o concreto, e assim erguer blocos de cinco metros por camada na barragem sem comprometer a estrutura. O concreto precisa ser resfriado se não trinca pelo excesso de calor. Os engenheiros da Camargo contam que não há margem para erro em Jirau, pois a usina precisa fazer a manobra do rio em meados do ano que vem, no período da seca, mesma época em que Santo Antônio fará também o desvio do rio para executar o restante da obra.

Em Santo Antônio, sem tanta pressa, nem gelo está sendo usado e os engenheiros trabalham com uma folga de três meses. A usina começa a gerar em dezembro do próximo ano, mas o diretor do contrato pela Odebrecht, Mário Lúcio Pinheiro, diz que o ritmo é para começar a operar em setembro.

A correria de Jirau está pautada na ambição de antecipar toda a geração da energia assegurada para o ano de 2012 e para atingir esse objetivo precisa instalar em apenas um ano cerca de 30 turbinas.

Cada uma pesando em torno de 1.000 toneladas. As carcaças das primeiras máquinas recém começaram a ser instaladas no canteiro de Jirau e ao todo 20 mil pessoas estão envolvidas na obra.

Em seu auge, o número de funcionários chegará a 25 mil, cerca de 10 mil mais do que o previsto.

A diferença para Santo Antônio é grande, já que mesmo em seu auge, a usina tocada pela Odebrecht, e que tem Furnas como uma das principais sócias, deve atingir 15 mil funcionários diretos.

O diretor da Odebrecht responsável pela obra, José Bonifácio, conta que hoje são cerca de 14 mil funcionários na obra e diz que já é difícil obter mão de obra só para repor os funcionários que deixam a obra todos os dias. O índice de rotatividade é de 6%. Isso significa que 600 funcionários precisam ser substituídos todo mês. Cerca de 85% dos trabalhadores é da própria cidade de Porto Velho.

Quase 120 quilômetros rio acima, ainda em Porto Velho, Jirau usa apenas 65% da mão de obra local. O restante foi buscar em outros Estados. A usina começou a ser erguida três meses depois que Santo Antônio. Todo o canteiro de obras e o fechamento de parte do rio, as chamadas ensecadeiras, foi feito no período das cheias. Diferentemente de Santo Antônio, que contratou a Odebrecht como empresa EPC (engenharia, fornecimento, montagem e obras civis), Jirau fez contratos separados. A Camargo Corrêa, por exemplo, é responsável apenas pelas obras civis. Todos os outros contratos são administrados pelo presidente da concessionária Energia Sustentável do Brasil, Victor Paranhos.

Paranhos se mostra confiante de que será possível antecipar a conclusão, e já conta com a antecipação de entrega de equipamentos.

As obras estão sendo realizadas nas duas margens do rio e foram divididas em três frentes. De um lado, ficarão 26 turbinas que serão fornecidas porumconsórcio liderado pela Alstom e mais o vertedouro.

Do outro lado ficarão as 18 turbinas fornecidas pelos chineses da Dongfang. Terminada estas duas partes, o rio é desviado para passar já pelas turbinas e o vertedouro e começará então a obra no meio do rio. Da forma como está sendo feita, é como se Jirau estivesse estivesse erguendo duas usinas hidrelétricas de grande porte ao mesmo tempo, o que faz com que a obra pareça maior que Santo Antônio.

A obra de Santo Antônio está dividida em quatro fases. Hoje as duas margens estão sendo trabalhadas, de um lado ficarão oito turbinas e de outro o vertedouro. O rio será então desviado e será erguida uma barragem onde ficará outro bloco de turbinas. Só pelo ano de 2014 é que o terceiro bloco de turbinas será colocado.

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