segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Desmatamento terá menor nível histórico em 2010

Tendência é que perdas fiquem novamente abaixo dos 10 mil km2, mas analistas veem perigo da volta da devastação mais à frente

Carolina Alves
 A tendência de redução no ritmo de desmatamento da Amazônia vem se confirmando nos últimos levantamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em agosto, a área perdeu 265 quilômetros quadrados (km2) de floresta, 49% a menos que os 498 km2 apurados no mesmo período do ano passado.

Expectativas do Greenpeace, inclusive, indicam que em 2010 o país atingirá o menor patamar histórico de desmatamento da Amazônia, abaixo do recorde de 2009, de 7,45 milkm2.

"No ano passado foi a primeira vez que o país ficou abaixo dos 10 mil quilômetros quadrados e, em 2010, projetamos uma degradação ainda menor que a do ano anterior", afirma Paulo Adario, diretor da área de Campanha da Amazônia do Greenpeace.

Mas ainda é cedo para comemorar.

Segundo Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra, os motivos que têm levado o país a patamares menores de degradação da floresta não se sustentam no longo prazo.

"Não houve melhoria na produtividade do agronegócio local - maior responsável pela degradação - com avanços tecnológicos que possibilitem produzir mais no mesmo espaço", explica.

Ele ressalta que houve, na verdade, uma mudança no padrão de desmatamento. "Esse tipo de degradação deixou de fazer a limpeza total da área, para uma destruição apenas parcial", afirma. "Os empresários deixam algumas árvores para tornar o gado ainda mais produtivo, visto que ele demanda menos água se ficar menos exposto ao calor, e plantam capim para pasto", complementa.

Outro fator importante na redução das áreas desmatadas é a queda da demanda externa por commodities, o que depreciou os preços e reduziu a oferta dos produtores locais. "Essas condições, porém, podem mudar a qualquer momento", destaca.

A necessidade de desmatamentos maiores por parte dos empresários da agropecuária foi reduzida também por uma questão política. "O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) gerou uma expectativa muito grande em relação a obras de infraestrutura, que contribuíram para os desmatamentos recordes entre 2004 e 2005.

Contudo, muitas dessas obras não se concretizaram, deixando uma área bastante significativa para uso local", comenta.

Focos de preocupação Além de questões econômicas e políticas, a esfera legislativa também merece destaque entre os fatores que podem contribuir para uma nova aceleração no ritmo das degradações. "A bancada ruralista saiu fortalecida nessas eleições, o que pode ser uma grande preocupação caso os representantes não sejam bem esclarecidos quanto às propostas de reformulação do Código Florestal, que tramitam no Congresso", diz Paulo Moutinho, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Segundo ele, algumas das mudanças propostas podem incentivar ainda mais o desmatamento.

Enquanto os desmatamentos na Amazônia apontam tendência de queda,no cerrado a destruição só tem aumentado. Entre maio e setembro, foram registrados 57,7 mil focos de queimadas, número mais de 350% superior ao verificado no mesmo período de 2009 - recorde nos últimos cinco anos.

"Se a queimada pode ser fruto de fenômenos naturais, por outro lado, grande parte vem de desmatamentos.

Isso é, ainda, um indício de que as degradações estão migrando das florestas para o cerrado", analisa Moutinho.

Procurado pelo BRASIL ECONÔMICO, o Ministério do Meio Ambiente não quis se manifestar sobre o assunto.

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