sábado, 2 de outubro de 2010

Na Amazônia, crianças ribeirinhas acompanham o ciclo da natureza

GABRIELA ROMEU
ENVIADA ESPECIAL A SANTARÉM (PA)

Garoto de Parintins (AM) segura barquinho feito de aninga

Para ir à escola ou garantir o almoço, Ravel Marinho, 12, cruza a "avenida Amazonas". Essa "avenida", como o menino brinca de chamar, não fica numa grande cidade. É o imenso rio Amazonas, com uns 6.900 km de extensão.

Ravel mora no paraná do Tapará, que fica no interior de Santarém (PA). Habita a várzea, área que alaga no inverno, a época das chuvas. Ou seja, vive por conta do ciclo das águas. "Enche tudo por aqui. Aí a gente fica sem pé, anda só de canoa" explica.

Até o calendário escolar acompanha a cheia e a seca (no verão). As aulas vão de agosto a abril, quando também os moradores da várzea plantam melão, melancia, macaxeira.

Gabriela Romeu/Folhapress

Palafitas de comunidade do paraná do Tapará, no Pará

Depois chegam as férias, de maio a julho, justamente no inverno. É quando o Amazonas invade a casa dos ribeirinhos, que constroem marombas (passarelas de madeira sobre as águas. Também se espalham cobras, jacarés e peixes - então, dá para pescar no próprio quintal!

Com a enchente, as galinhas vão morar no topo das árvores. Bois, vacas e cavalos são transportados de barco para regiões que não alagam. "Dá saudade de terra firme", conta Ravel.

É por isso que, no verão, as crianças se juntam nos campinhos para jogar futebol ou pular macaca (amarelinha). Aproveitam o tempo de "pé no chão".

(COLABOROU BRUNO MOLINERO)

Todas as cores

Na Amazônia, há rios de águas pretas, brancas (ou barrentas) e claras (ou transparentes). Os de águas pretas parecem rios de Coca-Cola, como o rio Negro. Mas não são de água suja; trazem arbustos e outros pedaços de floresta misturados nas águas. Os rios de águas brancas, como o Solimões e o Madeira, são marrons, parecem enlameados. São rios de águas riquíssimas, onde há muita fartura de peixe. Já os rios de águas clarinhas, como o Tapajós, o Trombetas e o Xingu, são cheios de corredeiras e cachoeiras. É por isso que hidrelétricas da Amazônia são construídas neles.

Glossário do rio

Gabriela Romeu/Folhapress

Barco escolar transporta alunos pelo paraná do Tapará

Com tanta água na Amazônia, é grande o vocabulário sobre os rios; conheça algumas palavras das crianças ribeirinhas

Igarapé - rio estreito, navegável, que pode sumir na época de seca. É uma palavra indígena que quer dizer "caminho de canoas".

Igapó - região da floresta amazônica que fica alagada na época da cheia. Com a estiagem, ela também seca.

Paraná - braço de água natural que liga duas partes de um mesmo rio, separadas por terra.

Furo - braço de água natural que liga dois rios diferentes. Não é igarapé porque é só um canalzinho usado para cortar caminho.

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