terça-feira, 26 de outubro de 2010

El Niño causou seca no rio Negro, diz meteorologista

A baixa vazão de água verificada atualmente no rio Negro, no Estado do Amazonas, é consequência do regime fraco de chuvas do começo do ano na região - influência direta do fenômeno climático El Niño. Uma relação da seca com mudanças climáticas, como o aquecimento global, é uma hipótese levantada por especialistas, mas não confirmada.

Com exceção de abril, as chuvas mensais no período úmido, no primeiro semestre, ficaram abaixo da média dos últimos 30 anos, e isso foi um dos motivos da vazão do rio diminuir ao longo do ano, segundo Francisco de Assis Diniz, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Abril foi o mês em que mais choveu, mas já era fim do período úmido, e maio voltou a ser seco, explica ele.

A falta de chuvas no começo do ano ocorreu por influência do El Niño, aumento anormal da temperatura das águas do Oceano Pacífico que muda padrões de transporte de umidade e o regime de chuvas no país. No Norte e Nordeste, chove menos. No Sul e Sudeste, mais.

Outros rios da região amazônica estão sofrendo baixa de vazão, como o rio Solimões, que atingiu em 11 de outubro o menor nível desde o início das medições, em 1982. O rio Negro chegou no domingo ao seu menor nível desde 1902, quando a estação de monitoramento do Porto de Manaus foi fundada. Apesar de ter voltado a chover em setembro, a previsão é de que a vazão baixe ainda mais até que as chuvas se intensifiquem a partir de novembro, segundo previsões do Inmet.

A expectativa de chuvas fortes é por conta da influência do fenômeno climático La Niña, com início confirmado em agosto, e que ao contrário do El Niño, favorece a umidade no Norte e Nordeste e a seca no Sul e Sudeste do país. A La Niña é o resfriamento anormal das águas do Pacífico. O impacto sobre os rios, porém, com a recuperação da vazão, só deve ser sentido a partir de janeiro, diz Diniz. Da mesma forma que a resposta na vazão dos rios às poucas chuvas no começo do ano veio tardiamente, a recuperação também demorará a chegar, explica o especialista.

A Defesa Civil informa que há 27 municípios em situação de emergência em decorrência da seca no Estado do Amazonas. Do total, seis cidades tiveram o estado decretado na sexta-feira. O problema ocorre após o Estado viver em 2009 um dos seus anos mais úmidos. No ano passado, 38 municípios decretaram estado de emergência em função das chuvas.

A variação do clima, com anos úmidos seguidos de períodos secos, com seus extremos acentuados, pode ser uma consequência do aquecimento global, segundo Diniz, do Inmet. Se a tendência é de seca, verificamos uma seca mais forte, se é de chuvas, mais chuvas, diz. No entanto, essa relação ainda não é comprovada.

Na opinião de Marcos Ximenes Pontes, um dos coordenadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), episódios extremos [grandes secas e grandes cheias do rio] estão ficando cada vez mais frequentes e mais agudos. Para ele, esses fenômenos confirmam as hipóteses de que as mudanças climáticas estão ocorrendo. Entretanto, ele acredita que é preciso fazer estudos mais aprofundados para avaliar se é um momento de exceção ou tem a ver com a mudança climática.

Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), também choveu abaixo da média, neste ano, em outros países amazônicos, como a Bolívia, a Colômbia, o Equador, o Peru e a Venezuela. Isso trouxe impacto para os rios brasileiros, já que os países abrigam as cabeceiras de afluentes do rio Amazonas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cheguei aqui buscando foto desse episódio, que pena que não tem, vale a pena postar a foto.