sexta-feira, 18 de março de 2011

Brasil precisa priorizar hidrovias na Amazônia, diz CNI

Bruno Calixto

Para melhorar a infraestrutura de logística e transporte na Amazônia, o Brasil deveria priorizar obras nas hidrovias dos rios Tapajós, Paraguai, Madeira e Tocantins, de acordo com o estudo "Norte Competitivo", produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O estudo, apresentado nesta terça-feira (15) pelas federações de indústrias dos Estados da Amazônia Legal ao governo federal, procura identificar os gargalos no planejamento de infraestrutura e logística na região.

Ao todo, foram mapeados 151 projetos de infraestrutura de transportes logísticos na Amazônia Legal, 112 destes sendo eixos nacionais de integração e 39 de integração internacional com os países limítrofes Segundo o estudo, se todos esses projetos fossem realizados, seriam necessários R$ 52 bilhões - 80% de responsabilidade do Brasil. Por isso, o estudo sugere priorizar obras, com em um cálculo sobre custos, mostrando quais rotas são mais eficientes, mas também considerando outros pontos, como impactos ambientais e geração de empregos de cada obra.

"A priorização permite então selecionar os eixos de integração que devem ser priorizados no curto/médio prazo para permitir ampliar a competitividade da Amazônia Legal: Hidrovias do Paraguai e Juruena/ Tapajós, Belém-Brasilia, EF Carajás, BR 163, BR 364, Ferronorte, Hidrovias do Madeira e Tocantins", diz o estudo.

Logística para população

A geógrafa Bertha Becker, especialista em questões sobre desenvolvimento na Amazônia, também defende investimentos em logística na região, mas alerta que as obras não podem ser pensadas apenas na perspectiva da exportação. "Obras de logística, para o desenvolvimento da região, são cruciais. O problema é que essa proposta está mais preocupada com a exportação de recursos. É preciso uma logística que não só beneficie as exportações, mas atenda a população da Amazônia".

Segundo a pesquisadora, a Amazônia precisa de uma visão integrada, articulada e, principalmente, multimodal. Ou seja, integrando várias modalidades de transporte diferentes. "Primeiro, é preciso enfatizar o transporte fluvial e o aéreo, que são os que causam menos impacto no meio ambiente. Depois, construir pequenos trechos de ferrovias, ou em último caso rodovias, de forma complementar".

Para estimular a navegação fluvial, a pesquisadora acredita ser necessário construir algumas hidrovias, e eclusas em hidrelétricas. Entretanto, Bertha diz que é preciso cautela na construção de hidrelétricas na Amazônia. "Algumas poucas hidrelétricas precisam ser feitas. Só não pode planejar vinte hidrelétricas para um rio como o Tapajós. Aí realmente é acabar com a floresta mesmo".

Rodovias

Segundo a pesquisadora, é preciso bastante cuidado com a construção de rodovias, que causam forte impacto social e ambiental. Ela cita como exemplo a BR-163, rodovia que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA). "Na BR-163 foi criado um programa de desenvolvimento regional, com grande mobilização da sociedade, construção de Unidades de Conservação, criação de distrito industrial e uma tentativa de estabelecer uma gestão participativa importante. Não era simplesmente pavimentar um corredor", explica.

"O problema é que, depois de tudo feito, o governo desistiu de pavimentar porque o setor da soja arrumou outro caminho para a exportação", comenta. A BR-163 ainda não está completamente pavimentada, e é uma das obras que a CNI propõe priorizar.

Competitividade

De acordo com o estudo, a implementação das obras priorizadas geraria uma redução de 11,3% no custo logístico da Amazônia Legal, aumentando a competitividade da região. Essa economia faria com que os recursos utilizados nessas obras - avaliados em R$ 14 bilhões - seriam pagos em menos de quatro anos.

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