quarta-feira, 23 de março de 2011

Oleiros preocupados com inundações provocadas por Belo Monte

Mais de 400 famílias temem ficar sem área para extração de argila

Mais de 400 famílias estão preocupadas e apreensivas com a futura instalação da hidrelétrica de Belo Monte, que irá inundar áreas onde funcionam várias olarias de Altamira. Os trabalhadores do setor se queixam da falta de perspectivas diante da ameaça iminente. As famílias que dependem da atividade estão com receio de não encontrar novas áreas para retirarem a argila necessária para a fabricação de tijolos. Hoje, eles já sofrem com a sazonalidade da atividade, já que no período chuvoso as áreas onde atuam são alagadas e eles conseguem obter renda no máximo sete meses por ano. Eles temem que essas áreas serão alagadas permanentemente com o início de operação da usina, deixando estas famílias sem matéria-prima para continuar a produzir.

Segundo Lia Lima, presidente do Sindicato dos Oleiros de Altamira, a cada ano as dificuldades aumentam. Ela está na atividade há 25 anos e teme pelo futuro. A família do marido, Antônio Oliveira, mais conhecido como Virgulino, produz tijolo em Altamira há três gerações e enfrenta muitas dificuldades. No período em que trabalharam no ano passado, tiveram que pagar para a proprietária das terras 212 milheiros de tijolos (350 cada milheiro) para poder retirar sua matéria-prima. Além disso, uma empresa local requereu junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) autorização para explorar nos locais usados pelos oleiros artesanais.

A maior preocupação diz respeito ao futuro da atividade após o início do funcionamento da usina de Belo Monte. "Sempre fomos a favor da obra de Belo Monte, pois acreditávamos que a atividade seria alavancada junto com o desenvolvimento que chegaria à região, entretanto, o que temos de concreto é uma possibilidade de acomodação em uma área que também irá alagar", afirma Virgulino. A maioria dos oleiros não têm outro tipo de qualificação e teme ficar sem ter o que fazer. Hoje, eles investem na melhoria da atividade, com alternativa sustentáveis para a secagem dos tijolos, queimando produtos como palha de arroz, casca do açaí e do café, além da mistura do estrume do boi.

Para os oleiros artesanais, se as compensações impostas nos Estudos de Impactos Ambientais e no Relatório de Impacto Ambiental (Rima) deixarem de ser observadas e executadas, valerá então a máxima bíblica de que do pó viemos e para ele retornaremos. "Estamos precisando de área para a produção de tijolos, construções de fornos e moradia digna para os oleiros que moram em áreas alagadas", diz Virgulino.

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