quarta-feira, 2 de março de 2011

Governo prefere Vale em Belo Monte

Paulo de Tarso Lyra

A Vale deve substituir o grupo Bertin no consórcio de construção de Usina de Belo Monte, no Pará.  O Valor apurou que a direção da Eletrobras, após reunião na semana passada no Rio, fez o convite para a Vale, que demonstrou muito interesse em participar do empreendimento, cujo investimentos previstos é da ordem de R$ 20 bilhões.

O governo tem pressa em resolver a questão, depois que o BNDES negou empréstimo para o grupo Bertin, pois teme que o início do ciclo de chuvas na região Norte atrase ainda mais o cronograma das obras.  O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou, durante a posse do novo presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, na segunda feira, que esta decisão será tomada "no início de março".

A vaga da Bertin no Consórcio Norte Energia estava sendo disputada tanto pela Vale quanto pelo empresário Eike Batista e, com menores chances, pelo grupo Gerdau.  A favor da Vale pesaram alguns pré-requisitos essenciais.  O principal deles consta do edital de licitação da usina: a necessidade de se ter na concessionária uma empresa autoprodutora e grande consumidora da energia elétrica que será produzida pela futura usina.

Além disso, a Vale tem conhecimento do projeto, já que participou do grupo derrotado pela Norte Energia, ao lado da construtora Andrade Gutierrez.  Outro elemento favorável à mineradora é o fato de ela ser uma empresa com forte identidade nacional, assinalaram fontes do governos.

Eike Batista também estava interessado em participar do negócio.  Algumas preocupações, porém, afastaram o governo da escolha do empresário.  Ao contrário da identidade empresarial da Vale, as empresas do grupo estão muito ligadas ao estilo de Eike Batista.  Outra razão citada por fontes qualificadas do setor elétrico é o fato do empresário ter um perfil mais agressivo, uma pessoa que está disposta a investir em um empreendimento para vendê-lo mais à frente se essa for uma operação lucrativa.

Apesar de ter sido parte integrante do consórcio vencedor da licitação para a construção da Usina, o governo trabalhava com alternativas para a eventualidade des empresas participantes da concessionária não terem condições de honrar seus compromissos.  Neste cenário, assinalaram fontes do governo, a Vale sempre destacou-se como uma opção.

Para o governo, a definição do substituto da Bertin é o último empecilho para garantir o início das obras.  Não existe preocupação com a derrubada da licença ambiental parcial pela Justiça do Pará, acontecida na sexta-feira.  De acordo assessores que acompanham o processo de licitação, disputas jurídicas em empreendimentos desta natureza são naturais.

Da mesma forma, mantém-se, no Palácio do Planalto, o otimismo sobre a concessão da licença ambiental definitiva, apesar das declarações consideradas contraditórias dadas pelo atual presidente do Ibama Curt Trennepohl, ao "O Globo", afirmando não ser possível, no momento, conceder uma licença ambiental para a obra.  A análise é de que todas as negociações possíveis, inclusive o diálogo com as populações indígenas e as mudanças de projetos para reduzir os impactos ambientais, já foram feitas.

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