quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Para manter vantagens, governo deve assumir opção por economia verde

Martha San Juan França

A preocupação ambiental fez do Brasil um destaque nas duas conferências mundiais do clima-em Copenhague e Cancún - por ter tomado a dianteira e estabelecido metas de redução das emissões de carbono. O tema foi considerado importante o bastante também para guindar a senadora Marina Silva, defensora da causa verde, a um patamar relevante na disputa eleitoral deste ano.Movimentou o debate sobre a construção de novas hidrelétricas, a aplicação dos ganhos do pré-sal, a reforma do Código Florestal, o agronegócio exportador, o valor das florestas e da biodiversidade e a queda do desmatamento.

Pode ser considerado um diferencial do país na corrida do mundo empresarial para limpar ainda mais a economia. Mas, não pode ser tratado com meias medidas, lembram os empresários mais engajados coma causa ambiental e a sustentabilidade.

"Mais do que ações pontuais, seria necessário que o próximo governo sinalizasse para uma contextualização da sustentabilidade de uma forma plena, que abrangesse todas as dimensões da sociedade", diz o empresário Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. "Isso significa, além de um comprometimento com a transparência política e a redução da desigualdade social, um programa de investimentos que coloque o componente ambiental como fator determinante." Abrahão exemplifica: "Programas como Minha Casa Minha Vida, ampliação da infraestrutura como a construção de hidrelétricas, rodovias e ferrovias devem ter embutidos uma estratégia de crescimento econômico,mas também de conservação." Mesmo porque, acrescenta Oded Grajew, também do Instituto Ethos, "nosso rico patrimônio ambiental, ao longo do tempo, será cada vez mais valorizado. É como se tivéssemos um ativo que ninguém tem, em um mundo no qual os centros mais desenvolvidos são obrigados a enfrentar o caríssimo desafio de substituir o uso de combustíveis fósseis por energias renováveis".

Sem o risco de acomodação "É preciso investimentos em carros híbridos e em combustível renovável, na conservação da biodiversidade e das florestas, eficiência energética e na política de consumo consciente", afirma Grajew. "O papel do governo é dar suporte institucional, fiscal, tributário e financeiro nessa direção." Entre outras coisas, diz o diretor de sustentabilidade da Natura, Marcos Vaz, o governo deveria investir em uma lei de acesso à biodiversidade. "O marco legal vigente cerceia a pesquisa e a livre iniciativa e inviabiliza o uso sustentável da biodiversidade brasileira." Para Marina Grossi, presidente executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), as escolhas do governo precisam estar associadas à visão de longo prazo e à preocupação central de contemplar de forma mais harmoniosa possível as demandas econômicas e socioambientais do país. O CEBDS acaba de lançar a versão em português do Visão 2050, a nova agenda para as empresas, uma adaptação brasileira ao estudo internacional que aponta diretrizes para um mundo sustentável. "Nosso desafio é manter baixo o nível de desmatamento, mesmo quando aumentar a demanda por commodities, para que a salvaguarda das florestas não esteja ao sabor do preço da soja e da carne", diz. "A mesma coisa quanto a opção por fontes renováveis, que não pode ser deixada de lado pelas termelétricas e a adoção de medidas equilibradas em uma discussão tão polarizada quanto a que ocorre em torno do Código Florestal." E cita as oportunidades de negócios verdes que, segundo o estudo, podem chegar a US$ 1,5 trilhão em 2020.

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Empresários mais comprometidos com a sustentabilidade lembram que Brasil sai na frente em questões como energia limpa e metas para redução de emissões de carbono. Mas, novo governo deve sinalizar que está associado à preocupação de contemplar as demandas econômicas e socioambientais do país, em vez de pensar apenas no curto prazo. Ou então perderá as oportunidades de negócio na futura economia verde

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