segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Brasil avança nas negociações sobre desmatamento em Cancún

País costura acordos na reunião climática para exportar experiência em sistemas de monitoramento florestal

Ruy Barata Neto

O presidente mexicano, Felipe Calderón, posicionou-se ontem a favor da criação de mecanismos globais de financiamento para compensar países em desenvolvimento pela redução de emissões por desmatamento e degradação (nomeado pela sigla Reed). Trata-se de um dos principais temas de interesses do Brasil nas negociações multilaterais da Conferência do Clima da ONU (Cop-16), que vai até o dia 10, em Cancún, no México.

"O Redd é um exemplo de iniciativa que converteria os gastos públicos para a proteção do meio ambiente em negócios rentáveis", disse Calderón a uma platéia de executivos de multinacionais, reunida em torno da conferência empresarial que integra a Cop-16.

A aprovação do Redd em Cancún representaria um ganho real para o Brasil, apesar da baixa expectativa sobre a definição de acordos efetivos que levem à diminuição das emissões de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global.

Segundo o embaixador do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, negociador-chefe do país na Cop-16, as discussões sobre o Redd estão avançadas: "Já foi definida a parte conceitual".

O Redd é um mecanismo de compensação financeira para os países em desenvolvimento que estejam aptos a comprovar redução de desmatamento de áreas florestais, fator responsável por 15%das emissões de gases-estufa.

Os países envolvidos na Conferência de Copenhague, na Dinamarca, comprometeram-se a doar US$ 5 bilhões para fundos internacionais que podem financiar mecanismos de Redd. Alguns já estão em funcionamento e são usados em iniciativas piloto ao redor do mundo, mas não de maneira global como se espera obter em negociações no âmbito da ONU.

Os mecanismos de Redd são os itens mais importantes para o Brasil nas negociações, já que o país está capacitado tecnicamente a exportar serviços de preservação.

É nesta seara que o governo se destaca, via redução efetiva de desmatamento e queimadas em florestas, o que equivale à emissão de gases geradas pela frota de veículos de transporte.

Os dados comprobatórios apresentados pelo governo são viabilizados pelos sistemas de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Um exemplo é o Projeto Prodes (Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélites), com levantamento de dados anuais sobre a taxa do desflorestamento na Amazônia Legal.

Outro é a Detecção de Desmatamento da Amazônia em Tempo Real (Deter). "O Brasil é um dos únicos países do mundo a ter um sistema tão moderno para monitorar desmatamento e quer assumir uma posição que viabilize transferir essa tecnologia para outros países em desenvolvimento que possuem grandes reservas florestais", afirma o diretor geral do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Paulo Moutinho.

Segundo Figueiredo, a expectativa é a de que pelo menos duas fases da implementação de mecanismos de Redd em escala mundial sejam aprovadas em Cancún. A primeira é sobre projetos de capacitação de países em desenvolvimento para a adoção de sistemas de monitoramento, área na qual o Brasil seria o principal fornecedor. A outra é a a constituição de fundos globais que teriam recursos do Banco Mundial e outros fundos. Mas as dificuldades para emperrar o processo existem e vêm de países que, segundo Figueiredo, procuram aprovar estas ações em troca de posicionamentos do governo brasileiro em outros temas. *O repórter viajou a convite da Ericsson

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