Representantes da sociedade civil reconhecem a importância da iniciativa, mas questionam problemas na cadeia da carne e a conduta da empresa em âmbito global
A rede varejista Wal-Mart abriu o diálogo com a sociedade civil e os setores ambiental e social na tentativa de levar a empresa a um compromisso com a Amazônia. Ontem (20), em Brasília, a empresa se reuniu com ONGs, empresas fornecedoras - a exemplo de frigoríficos - e órgãos do governo para debater a comercialização dos produtos da Amazônia com responsabilidade socioambiental.
Daniela de Fiori, vice-presidente de Sustentabilidade da Wal-Mart Brasil, explicou que a empresa - a partir de outubro de 2005 - iniciou uma nova política de sustentabilidade. Entre as novas estratégias da empresa, Daniela lembrou que a Wal-Mart pretende usar 100% de energia renovável e disponibilizar produtos os mais corretos possíveis do ponto de vista socioambiental.
No entanto, o principal problema levantado por representantes da sociedade civil está relacionado com a cadeia produtiva da carne. A Wal-Mart, como as grandes redes varejistas, compra produtos provenientes da pecuária na Amazônia. Especialistas apontam a atividade pecuária bovina extensiva como principal vetor de desmatamento na região, estimulando a derrubada de árvores para a abertura de pastos.
O jornalista André Trigueiro, que mediou o debate, destacou o fato de que sua primeira experiência com Wal-Mart foi ruim, por estar ligada ao fato de que a empresa não conseguiu, juntamente com Pão de Açúcar e Carrefour, assegurar que a carne bovina que comercializava tinha origem adequada do ponto de vista socioambiental.
Para João Meirelles, do Instituto Peabiru, a melhor alternativa seria não comprar carne da Amazônia. Segundo Meirelles, caso isso não aconteça, a Wal-Mart pode sofrer grande pressão da sociedade pela sua conduta na Amazônia. Já para Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), não comprar carne da Amazônia não é a solução. "Se deixar de comprar, o produtor vai vender pra qualquer comprador e continuar desmatando para produzir. Ao contrário, se uma empresa como a Wal-Mart impõe condições, os produtores podem se enquadrar e o modelo de produção ser reorientado", disse Adriana.
Problemas globais
O diretor-adjunto da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Mario Menezes, questionou se a Wal-Mart terá comportamento diferente, no Brasil, daquele que vem apresentando em outros países, em relação a questões socioambientais.
Nos Estados Unidos, a Wal-Mart vem sofrendo penalidades e tem sido alvo de denúncias nas áreas trabalhista e ambiental. Entre 2003 e 2005, as agências ambientais americanas aplicaram multas de US$ 5 milhões à empresa, que também é acusada de pagar salário para as mulheres, que são a maioria dos funcionários da empresa, 37% menor que o dos homens. A empresa anunciou recentemente que pretende dobrar o uso de energia solar, mas reportagem do Los Angeles Times atesta que as novas lojas não estão seguindo esse critério. Além disso, o governo da Califórnia proibiu a abertura de uma nova loja devido ao não atendimento dos critérios para combate ao aquecimento global.
A vice-presidente de sustentabilidade da Wal-Mart reconheceu que existe uma situação de não cooperação com os sindicatos dos EUA, mas ressaltou que a empresa quer investir com seriedade nas questões socioambientais, já que o varejo corresponde a 3% do impacto direto sobre o meio ambiente.
Para Menezes, é importante reconhecer a iniciativa da empresa em relação à Amazônia, "mas não podemos deixar de cobrar a superação dos passivos que ela tem fora do Brasil, uma vez que a construção da sustentabilidade é um processo de implicações globais e que toda e qualquer iniciativa nesse sentido, no Brasil, deve considerar o perfil socioambiental e a forma de atuar dos atores envolvidos também no resto do mundo.", concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário