quarta-feira, 22 de setembro de 2010

País demorou a descobrir descolamento entre desenvolvimento e devastação

Há apenas dez anos, o desmatamento na Amazônia era tido como um problema tão intratável que o governo se recusava a discutir metas para sua redução. A floresta, achava-se, era o ovo que precisava ser necessariamente quebrado para fritar a omelete do desenvolvimento.
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CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

O cruzamento dos dados do PIB amazônico com os do desmatamento nos últimos anos expõe claramente a falácia desse argumento: a região Norte ficou 40% mais rica de 2004 a 2007, e o desmatamento caiu 60% no quadriênio. E continua caindo.

Não precisaria esperar tanto tempo, nem deixar que 18% da floresta amazônica virasse fumaça, para concluir que desenvolvimento e devastação estão em grande parte descolados.

Como qualquer outra atividade criminosa, o desmatamento só é lucrativo num primeiro momento porque não paga os custos de produção: a terra é grilada e a madeira e os nutrientes do solo onde havia floresta são rapinados até a exaustão.

Há contradição na ação do governo. Enquanto pune madeireiros ilegais, grileiros e o setor da pecuária "pirata", estimula potenciais indutores de desmatamento, como grandes obras de infraestrutura. Continua dando crédito subsidiado aos assentados rurais, que respondem por uma fração cada vez maior das derrubadas.

Do Congresso vem outra sinalização dúbia: a reforma no Código Florestal, que anistia amplamente o desmatamento e pode passar ao setor rural a impressão de que não há lei que não possa ser revista, nem fato que não possa ser consumado.

E as medidas fundamentais, de transformação da economia da floresta, não foram tomadas ou são executadas em velocidade muito lenta. Sem elas, o governo terá de assumir o papel de eterno vigilante, e os futuros ministros do Meio Ambiente precisarão suar muito para laçar bois piratas no pasto.

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