sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"Ideia de fronteira se perde no meio da floresta", diz a diretora do documentário "Terras

Quando começou a pensar em seu primeiro longa-metragem, há cinco anos, Maya Da-Rin pensava em algo sobre regiões fronteiriças. "São locais de trânsito, de confluência. Ainda não é um país e também não é outro", explicou a diretora sobre porque escolheu a fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia como ambiente para o seu documentário "Terras", que estreia sexta-feira em São Paulo.



"Conhecemos muito pouco sobre os outros paises da América do Sul. Como a maior parte da população brasileira se concentra na costa, as fronteiras são quase um mistério para a gente". Munida dessa curiosidade, Maya foi para a região em 2005, começou uma pesquisa de reconhecimento de local e a fazer contato com moradores. "Fiquei dois meses morando em Letícia, uma cidade na Colômbia"

Um ano depois, quando voltou para fazer o filme, apesar de todas as informações reunidas sobre o local, Maya não quis se ater a um roteiro pensado antes das filmagens. "Partimos da ideia de estarmos no lugar para descobrir o filme e as personagens. Nosso objetivo era transmitir a experiência de quando estamos na fronteira. As personagens foram aparecendo aos poucos, à medida que fomos fazendo contato com elas."

Foram exatamente essas pessoas, entrevistadas em "Terras", que ajudaram a diretora a encontrar um caminho. "O filme se estrutura pelas pessoas da fronteira, taxistas, barqueiros, que transitam entre as cidades e a floresta amazônica." Para colher depoimentos, Maya e sua equipe ficaram bastante tempo em cada lugar, para não apenas se entrosar com os entrevistados, mas criar, como ela define, "uma relação particular com a câmera".

Assim, a documentarista conheceu figuras marcantes, como a índia Basília, que conheceu numa feira em Letícia e serve como uma espécie de guia para a equipe na floresta. Já na visita a uma aldeia indígena em Tabatinga (cidade do estado do Amazonas, gêmea de Letícia), Maya atentou para as diferenças entre aquelas mais próximas às cidades e as outras situadas no meio da floresta. "Há aldeias que são asfaltadas, possuem casas de madeira que estão sendo substituídas por alvenaria."

A diretora também diz que foi uma surpresa a forma como os povos da Amazônia se relacionam com a tecnologia. "Eles têm muito interesse por produtos eletrônicos. Há acesso à internet e várias lan houses espalhadas. Além disso, existe um interesse grande pela cultura contemporânea. Eles fazem música no ritmo brega, mas com a letra na língua deles e usam guitarras e outros instrumentos."

Ao fim do processo de fazer "Terras", Maya - que é filha dos cineastas Sandra Werneck (de "Meninas", que é produtora do filme) e Sílvio Da-Rin ("Hércules 56") - descobriu que, na Amazônia, aquilo que chamamos de fronteira acaba se perdendo. "A ideia do que é uma fronteira, uma linha que separa os países, acaba sendo algo impalpável. De repente, é algo perdido lá no meio da floresta e as pessoas que moram na região nem se dão conta disso".

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