terça-feira, 21 de setembro de 2010

Brasil lança plano para salvar o cerrado, ameaçado pela agricultura extensiva

O cerrado é "uma floresta amazônica ao contrário". Acima do solo, uma savana com suas árvores e arbustos de troncos retorcidos, de casca grossa, com pequenas folhas duras, que explodem em flores com a volta da primavera, logo antes das chuvas salvadoras. Sob a terra, raízes longas e profundas que buscam água nas entranhas de um solo ressecado pelo Sol em parte do ano. O cerrado só conhece duas estações: a seca e a chuvosa.

Essa vegetação de transição entre floresta amazônica e regiões costeiras está sendo ameaçada pelo homem. Em menos de meio século, os 2 milhões de quilômetros quadrados de savana perderam metade de sua cobertura vegetal. Alertado por inúmeros estudos, o governo brasileiro acaba de lançar um plano de preservação do cerrado, vítima do avanço da fronteira agrícola e da urbanização que se expande. As autoridades querem reduzir em 40% o ritmo das destruições até 2020 e dedicar a isso 150 milhões de euros (R$ 340 milhões) em um ano.

O planalto, situado no centro do Brasil, é o berço das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul. Sua fauna e sua flora são de uma riqueza extraordinária, mas nem 3% de sua superfície são protegidos, e espécies animais estão ameaçadas de extinção. Unidades de Conservação, semelhantes a parques nacionais, serão instaladas em 25 mil quilômetros quadrados, enquanto 55 mil quilômetros quadrados serão convertidos em reservas indígenas.

O avanço das atividades humanas coincidiu com a construção de Brasília, capital futurista de um país que despertava para a industrialização, meio século atrás. Começou então a lavoura do cerrado e de sua vegetação baixa, fácil de eliminar. Entre as cidades, a agricultura ganhou terreno. A região do Centro-Oeste se tornou o celeiro do Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisa Agrícola, 59% da soja, 26% do milho, 18% do arroz, 48% do café e 70% da carne são produzidos sob essas latitudes tropicais.

Pesticidas

A produtividade melhorou graças aos pesticidas, mas também com a extensão das áreas cultivadas, ignorando a lei que teoricamente obriga um proprietário a preservar uma "reserva" de vegetação original que represente 20% da superfície que ele possui. Os poderosos fazendeiros conseguiram impedir a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, de aplicar aqui a medida que, na Amazônia, fez recuar o desflorestamento: cortar os créditos dos agricultores que desmatam ilegalmente. O plano prevê recuperar os pastos abandonados e replantar reservas extintas. Ele também quer erradicar uma prática supostamente tradicional, mas cada vez mais criminosa: as queimadas, que devastam a natureza a cada ano durante o inverno. Nas últimas semanas, os aeroportos das capitais regionais como Palmas ou Cuiabá tiveram de ser fechados por vários dias devido à fumaça.

As queimadas são a princípio proibidas, mas seu número, neste ano de excepcional secura, bateu recordes: 14.629 princípios de incêndio foram registados em agosto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O plano de combate prevê a criação de uma brigada de 4.500 bombeiros para tentar vencer os incêndios, raramente controlados hoje.

Tradução: Lana Lim

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