domingo, 19 de setembro de 2010

Brasil arde em chamas e expõe falta de estrutura para prevenir incêndios

Afra Balazina e Andrea Vialli

Ambiente. Número de focos de queimadas chega a 72 mil desde o início de 2010 - a maior marca nos últimos três anos - e, apesar da gravidade, governo demora para agir. Tema é ignorado na campanha dos principais candidatos à Presidência da República


A quantidade de queimadas em 2010 - maior em três anos - expõe a falta de estrutura para prevenir e combater os incêndios. Até quinta-feira, o País acumulava cerca de 72 mil focos de fogo. Em 2009, foram 26,2 mil e, em 2008, 44,7 mil. Apesar da gravidade, o tema demorou a receber uma resposta do governo e sequer entrou na agenda de campanha dos principais candidatos à Presidência da República.

Contribuíram para agravar o quadro diversos fenômenos meteorológicos, entre eles o fato de o período seco ter começado mais cedo. Mas, para ambientalistas, o ponto central da questão é o uso do fogo na agropecuária, que, apesar de ser uma tecnologia arcaica, continua sendo muito utilizada e acaba fugindo do controle, provocando incêndios de grandes proporções.

"Os brasileiros usam o fogo como arado ou trator e a cinza como adubo", resume Paulo Adário, do Greenpeace. Para ele, é fundamental investir na capacitação do produtor e em assistência técnica. Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, reforça a ideia. "Temos um círculo vicioso do uso controlado do fogo por conta do atraso em programas de produtividade agrícola e pecuária. O desafio está na mudança dessa prática primitiva."

Além do problema ambiental, as queimadas trazem prejuízos aos produtores. A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) não possui dados, mas admite que o tema preocupa. "As ações preventivas têm falhado. Para o ano que vem será preciso um plano de ação mais abrangente", diz Assuero Doca Veronez, presidente da Comissão de Meio Ambiente da CNA.

Veronez explica que, até então, as federações estaduais de agricultura e os sindicatos rurais têm atuado na orientação aos produtores para evitar os incêndios. "Será preciso unir forças com órgãos do governo para traçar um plano mais efetivo", diz.

Ele concorda que é preciso modernizar as práticas agrícolas, especialmente para os pequenos produtores no Norte e Nordeste. "A tecnologia para evitar o uso do fogo existe, a questão é disseminá-la. E isso requer política pública."

Plano. Na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou um plano de proteção ao Cerrado. O pacote prevê a contratação, nos próximos cinco anos, de 4,5 mil brigadistas para atuar na prevenção e no combate ao fogo. A ministra previu R$ 350 milhões, a serem divididos por vários ministérios, para o plano de ação.

No fim do ano passado foi criado o Programa Nacional de Redução e Substituição do Fogo nas Áreas Rurais e Florestais (Pronafogo). Para o coordenador do programa, Vânius de Amorim, a questão das queimadas é transversal. "Abrange educação, reforma agrária, terras indígenas, agricultura familiar, agronegócio e crescimento populacional", diz.

Segundo ele, o programa tenta criar nos Estados centros que integrem as três esferas de governo para melhorar o monitoramento e a prevenção. Foram criados, por exemplo, centros em Roraima, Mato Grosso e Tocantins. Mesmo fazendo parte do trabalho, Mato Grosso é o Estado com maior número de focos do País (21,6 mil). "Sem isso, teria sido muito pior", diz ele.

Entre os candidatos à Presidência da República, apenas Marina Silva (PV) chegou a abordar o combate às queimadas em seus discursos. O candidato José Serra (PSDB) disse, por meio de sua assessoria, que levará para todo o Brasil o que foi feito em São Paulo, dentro da Lei de Mudanças Climáticas: limitação drástica para as queimadas da cana-de-açúcar. A coordenação de campanha da candidata Dilma Rousseff (PT) afirmou que a candidata não possui diretrizes específicas para o combate às queimadas.

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