domingo, 19 de setembro de 2010

Campanha amazônica refuta discurso verde


Candidatos criticam ambientalistas e atribuem indicadores sociais ruins a visão da floresta como "santuário"

ESTELITA HASS CARAZZAI

FELIPE BÄCHTOLD

DE SÃO PAULO

KÁTIA BRASIL DE MANAUS

Especialistas criticam discurso de políticos na eleição e temem que degradação ambiental na região aumente

Se na campanha para presidente Marina Silva (PV) é a militante ecologista, nos Estados da Amazônia há candidatos fazendo campanha cujo lema é a flexibilização de restrições ambientais.


Na esteira da discussão sobre o novo Código Florestal, partidos prometem lutar por mais autonomia dos Estados nos licenciamentos. Há ressentimento contra o que chamam de centralização de Brasília e "tecnocratas" que "agem com base no Google".

Vários candidatos culpam os indicadores sociais ruins da região pela visão da mata como "santuário".

A disputa no Acre é o caso mais evidente: uma das maiores coligações tem como nome "Liberdade e produzir para empregar".

Tião Bocalom (PSDB), que disputa o governo, fala que a população "não aceita" o atual modelo de desenvolvimento sustentável "do PT".

"Muitos olham a Amazônia e apenas os macacos, as árvores, os bichos e esquecem que aqui tem gente também, que essa gente precisa de qualidade de vida."

Outros mantêm críticas ao mesmo tempo em que adotam o slogan do "desenvolvimento sustentável".

Em Roraima, a revolta tem origem na demarcação de terras indígenas, como a Raposa/Serra do Sol, e de áreas de preservação federais.

O governador José de Anchieta Júnior (PSDB), que tenta a reeleição, e seu rival Neudo Campos (PP) acham que isso trava a economia local.

Anchieta fala que os países desenvolvidos querem que o Brasil seja a "babá ambiental do planeta".

Em Rondônia, Expedito Júnior, candidato tucano, vai na mesma linha e diz que outros países "acabaram com suas florestas e agora querem interferir" no Brasil.

O governador, João Cahulla (PPS), falou num debate que o "agricultor da mão calejada está sendo enrolado pelos ambientalistas".

O candidato do PSDB no Amapá, Jorge Amanajás, que também fala em sustentabilidade e em "pressões internacionais", considera que a candidatura de Marina não "defende da forma que deveria" o desenvolvimento da região. "Não podemos olhar só o lado preservacionista." "AMAZÔNIA ARRASADA"

Especialistas criticam a visão das campanhas e temem que as ideias se concretizem.

O pesquisador do Imazon Adalberto Veríssimo afirma que essas propostas prejudicam interesses do país.

"O Brasil pode e deve desenvolver a Amazônia sem desmatar. Temos uma área desmatada de três vezes o Estado de São Paulo. É uma parte, inclusive, abandonada. Vamos aproveitar áreas já desmatadas, intensificar a agropecuária lá."

Cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o americano radicado no Brasil Philip Fearnside diz que a liberdade aos Estados "arrasaria a Amazônia".

"[Os Estados são] muito mais sujeitos a lobbies de quem vai ganhar diretamente com os desmatamentos", afirma Fearnside, integrante da equipe premiada com o Nobel da Paz por trabalhos sobre mudanças climáticas.

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