Daniela Chiaretti
"Tem agenda do mundo para a Amazônia, vinculada às emissões, mas qual a agenda da Amazônia para o mundo?", começou o ex-governador do Acre e senador eleito Jorge Viana. "É preciso fazer uma inversão", defendeu, "e transformar a região mais pobre do país, na mais rica." O caminho que ele sugere passa pelo fortalecimento da economia florestal, pela logística e infraestrutura mais adequada à região, pela exploração sustentável de seus recursos minerais e pela industrialização.
"A Amazônia não vai a lugar nenhum vivendo de vender matéria-prima e essências para empresa. É preciso dar escala a esta economia." Viana falou no seminário "Desafios para a Amazônia em 2011" promovido pelo Fórum Amazônia Sustentável e que começou ontem, em Belém. O Fórum agrupa 237 organizações entre empresas como a Vale, Alcoa, Suzano, Natura e Petrobras, ONGs e governos. Segundo Viana, o novo governo tem estratégia "quase explícita" de consolidar a infraestrutura para que o país possa crescer - uma rota que ele pretende aproveitar.
A presidente eleita Dilma Rousseff não conhece profundamente o tema e a região, mas, Viana não acha isto um problema.
"Desde que a gente esteja disposto a tentar conquistá-la. O pior seria se ela tivesse posição pré determinada e equivocada da Amazônia. Dilma quer este país crescendo, e isso para mim é um atrativo." "A economia florestal tem que estar no centro do debate", defendeu o novo senador. "A infraestrutura não pode ser feita só para ligar uma cidade à outra, tem que estar vinculada a um modelo de desenvolvimento.
Economia florestal significa dar uso múltiplo à floresta e, inclusive com o que temos debaixo do solo", continuou. "Não me assusta alguém querer implantar uma siderúrgica no Pará. O que me assusta é importar o carvão." Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon, lembrou que o Pará é maior que toda a Região Sudeste do Brasil e que existem 10 milhões de hectares abandonados no Estado, o que corresponde à área de dois Estados do Rio de Janeiro. Em 1990, lembrou, 48% da população na Amazônia vivia na extrema pobreza, percentual que foi reduzido para 42% em 2009 - ou seja, melhorou, mas bem timidamente, o que confirma que o modelo de desenvolvimento na região tem que ser outro. A ilha do Marajó, diz, tem um dos mais baixos IDHs do país. Mas ele é otimista: "Acredito que estamos frente a um novo ciclo de desenvolvimento na Amazônia." Helenilson Pontes, vice-governador eleito do Pará pelo PPS, reclamou do pouco que a região recebe do governo federal. "Como podemos discutir o futuro de umaregião com tantas potencialidades se o que fica aqui ou o que recebemos é tão pouco?".
Outro ponto forte do seminário foi a discussão em torno das mudanças no Código Florestal.
"O que está se discutindo ali é anistia. Não se está discutindo biodiversidade ou recursos hídricos", disse Valmir Ortega, diretor do programa Cerrado\/Pantanal da Conservação Internacional, referindose ao relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB). "O relatório está discutindo a dívida de milhões de hectares desmatados, um passivo que ninguém sabe ao certo quanto é, mas que não será pago", continua. "Ele isenta agora, limpa a ficha de quem desmatou e dá moratória de cinco anos ao desmatamento." Segundo ele, 99,99% do desmatamento no Pará é ilegal. No Mato Grosso, 98%. "Não se pede licença para desmatar", diz. Ortega, que foi secretário de Meio Ambiente do Pará calcula que a produção de madeira ilegal na Amazônia está entre 4 a 5 milhões de metros cúbicos, sendo que o Pará responderia por cerca de 2 milhões de metros cúbicos.
"Não adianta pactuarmos no Congresso que vamos abrir mão do grande passivo ambiental do setor rural em troca da promessa que daqui para a frente não acontecerá mais. Não funciona." A solução, defendeu, é ampliar a capacidade de governança e criar uma política ambiental com instrumentos como o pagamento de serviços ambientais para recuperar parte dos ativos florestais perdidos. "Temos que pensar em algo completamente novo." A jornalista viajou a convite do Fórum Amazônia Sustentável
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