Gustavo Faleiros
O debate sobre o meio ambiente sempre teve um tópico difícil de se lidar: a relação entre pobreza e a degradação ambiental. Enquanto alguns argumentam que a perda de florestas, solos e outros recursos naturais é uma das principais causas da pobreza, outros observam que é o homem privado de meios que opta por destruir a natureza ao seu redor.
Nessa discussão, o lado certo nunca foi de fato declarado, mas um grupo de pesquisadores ao redor do mundo está movendo o tema para além da polarização.
Financiado pelo governo britânico, o projeto Serviços Ecossistêmicos e Redução de Pobreza (conhecido pela sigla ESPA em inglês) aprofunda a investigação acadêmica sobre países e comunidades altamente dependentes dos recursos naturais.
O diretor do projeto, Paul Van Gardinger, da Universidade de Edimburgo, diz que um dos exemplos mais claros desta relação seja a Amazônia. "Não apenas comunidades locais, mas grande parte da América do Sul depende dos serviços ecossistêmicos providos pela Amazônia", diz. O ESPA interessase, em descobrir quais são as oportunidades de melhorar o entendimento sobre essa dependência.
O ESPA, segundo ele, está "olhando à distância" a polêmica entre pobreza e degradação ambiental.
O conceito fundamental é que as pessoas são parte dos ecossistemas.
Por isso, são também parte da solução. Isso ajudou a desenhar a própria metodologia da iniciativa: um projeto que fomenta tanto pesquisas em ciências duras (como a física, química e biologia) como nas ciências sociais.
Desde 2007, quando foi iniciado, o projeto financiou dez estudos cujos resultados foram publicados em revistas científicas. Segundo Gardinger, as pesquisas concentram-se em questões ligadas ao uso sustentável de espécies nativas e a proteção de solos em regiões conservadas. Os próximos passos serão entender melhor como funcionam os serviços ambientais ligados ao sequestro de carbono e provimento de água.
"Creio que a inovação do ESPA é a abordagem que impulsiona uma ciência multidisciplinar que ajudará a lidar com desafios crescentes de nossa sociedade, como mudanças climáticas, perda da biodiversidade , disponibilidade de água e pobreza", diz o pesquisador Mandar Trivedi, da Global Canopy Programme, que também participa do ESPA.
Trivedi diz que as pesquisas sobre pobreza e meio ambiente podem ser uma fonte valiosa para tomadores de decisão. Em última instância, descobrir quais são políticas públicas que ao mesmo tempo garantem prosperidade e conservação dos recursos naturais se tornará o desafio de todos os países do globo. " Em um nível global, o ESPA pode apreender lições em uma região e aplicar em outras. Por exemplo, o combate ao desmatamento na Amazônia pode mostrar os caminhos para agir na bacia do Congo." Gardinger diz que a maioria dos projetos era concentrado na escala de país, mas isso deve mudar. Há interesse em financiar pesquisas que aumentem o entendimento de serviços ecossistêmicos em grande escala. Neste caso, a Amazônia é uma região candidata ao estudo, porque cada vez mais se descobre como processos climáticos globais estão ligados à saúde da floresta tropical.
O coordenador do ESPA esteve no Brasil em novembro visitando universidades e conversando com pesquisadores. Profissionais de universidades do país todo, além de centros de pesquisa do INPE e Embrapa estão entre aqueles que estão concorrendo a verbas para novos estudos sobre os serviços ecossistêmicos. Na opinião de Gardinger, o Brasil é ator muito importante no projeto. "Existem cientistas de elite e um governo muito engajado em reverter o processo de perda da biodiversidade causada pelo desmatamento." Trivedi concorda: a Amazônia embora seja considerada uma região pobre, está no centro de um comércio internacional de commodities.
Entender a contribuição dos serviços ambientais da floresta para o globo será essencial para alterar o sistema de valores que rege a economia local. "O ESPA vai apoiar o desenvolvimento sustentável das comunidades locais e possivelmente ajudar o surgimento de uma nova economia baseada na pletora de produtos que são encontrados na floresta." As pesquisas do ESPA surgem num momento em que diversos instrumentos de pagamentos por serviços ambientais tornam-se comuns.
Esquemas de pagamentos pelo uso da água ou a compensação pela redução das emissões de gases de efeito estufa causadas pelo desmatamento (REDD) são exemplos disso.
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