Por Herton Escobar, MANAUS
O limite máximo de desmatamento que a Amazônia pode suportar antes de se transformar numa savana é 50%, segundo estudo divulgado ontem em Manaus pelo pesquisador Gilvan Sampaio, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse é o chamado "ponto sem retorno", ou tipping point, em inglês, a partir do qual a floresta perde a capacidade de se regenerar. Hoje, cerca de 20% do bioma já foi desmatado em toda a América do Sul.
A região mais impactada seria a Amazônia Oriental, formada principalmente pelo Pará. "Todo o leste da Amazônia viraria uma savana", disse Sampaio, que apresentou os resultados de sua tese de doutorado na conferência Amazônia em Perspectiva, que reúne os três maiores programas de pesquisa sobre a floresta (conhecidos pelas siglas LBA, Geoma e PPBio).
"A floresta se auto-sustenta", explicou o cientista. "A vegetação depende do clima, mas o clima também depende da vegetação. Quando você remove a cobertura vegetal, você muda também o clima até um ponto crítico em que a floresta não consegue mais voltar ao que era antes."
A porção oeste do bioma permaneceria relativamente imune à alteração, blindada pelos índices pluviométricos mais elevados nas regiões próximas aos Andes. A transformação "sem volta" ocorreria só nas áreas já desmatadas, segundo Sampaio - apesar de outros cientistas acreditarem que o desmate no leste pode cortar o fluxo de vapor de água para o interior da floresta, no oeste.
O resultado, além dos impactos climáticos regionais (redução de pluviosidade e aumento de temperatura), seria uma extinção em massa de espécies da floresta tropical. "A savana é um ecossistema muito pobre em espécies, diferente do cerrado, que é riquíssimo", ressalta Sampaio. Além das emissões de carbono provenientes do desmatamento, que seriam catastróficas para o aquecimento global.
O risco de savanização da floresta é debatido há anos pelos pesquisadores, mas não havia, até agora, um estimativa mais concreta de qual seria esse "ponto sem volta".
Segundo Sampaio, o efeito geral é o mesmo seja onde for a área desmatada - no Brasil, no Peru, na Colômbia, na Venezuela ou em qualquer outro país amazônico. "O importante é quanto você perde de floresta, não onde o desmatamento ocorreu", disse. Se os atuais 20% de área desmatada chegarem a 50%, a situação se tornará irreversível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário