quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Folha - Petróleo ameaça animais na Amazônia ocidental

Por RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mapeamento vê arco de desmatamento incipiente partindo de países andinos

Peru e Equador têm mais sobreposição de áreas com biodiversidade e petróleo; escoar produto sem estrada reduz impactos, diz estudo

As regiões da Amazônia que estão licitadas ou em processo de licitação para exploração de petróleo e gás já somam uma área maior que a da França, e praticamente todas elas estão em regiões da floresta onde a natureza é mais rica em espécies. Um estudo de cientistas americanos trabalhando na América do Sul mostra que, se a infra-estrutura de exploração não tentar minimizar os impactos ambientais, aves, mamíferos e anfíbios que existem nesses 688.000 km2 podem perder parte de seu habitat.

A sobreposição de prioridades, porém, não tem motivo especial. "Acho que é apenas azar existir uma área tão biodiversa e com um recurso tão cobiçado", disse à Folha o ecólogo Clinton Jenkins, da Universidade Duke, um dos autores do estudo, publicado ontem na revista "PLoS One". O trabalho mapeou os projetos de exploração de petróleo em áreas de Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador e Peru. O problema da sobreposição é bem mais grave nos dois últimos da lista.

"Há 64 blocos de exploração cobrindo 72% da amazônia peruana (490.000 km2)", afirma o trabalho, assinado também pelo ecólogo Stuart Pimm e cientistas de duas ONGs de conservação. "As únicas áreas com proteção completa contra atividades de petróleo e gás são parques nacionais e santuários históricos, que cobrem 12% da amazônia peruana."

Segundo Jenkins, o maior risco para a região, porém, não é fruto direto da extração de petróleo. "São as estradas que tendem a levar à maior parte dos problemas -desmatamento, extração ilegal de madeira e caça ilegal-, porque elas dão acesso a áreas remotas", diz.

Transporte alternativo
O novo estudo defende que os novos projetos de exploração tentem escoar a produção por ferrovias e hidrovias para evitar que estradas incentivem a grilagem em regiões inabitadas. "Há alguns exemplos de oleodutos sem estradas na região, e uma das empresas que têm feito isso razoavelmente bem é a Petrobras, em Urucu, no Amazonas", diz Jenkins. "Há um longo oleoduto que, pelo que eu sei, gera pouco desmatamento. Existe algum impacto, mas ele é minimizado."

Os benefícios que surgiram do cuidado que se teve com o projeto na região, porém, podem ser perdidos quando a rodovia BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, for asfaltada.

"Acredito que a construção da BR-319 deva ser precedida de uma melhor análise das alternativas para moldar esse transporte, especialmente o ferroviário e o hidroviário", diz Virgílio Viana, ex-secretário estadual do Meio Ambiente do Amazonas, um dos articuladores das medidas de redução de impacto em Urucu. "Já foi feito um estudo de viabilidade e, a meu ver, a ferrovia é viável lá."

Jenkins também realça o problema da existência de reservas de petróleo em terras indígenas. Nesse caso, também, Peru e Equador são os países com mais sobreposição. O governo equatoriano demarcou em 2007 a chamada Zona Intangível, onde a exploração é proibida para evitar prejudicar as tribos que vivem isoladas na região. Segundo Jenkins, porém, há "evidências hoje de que eles abrangem uma área além da zona demarcada".

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