quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Envolverde - Museu vivo na Amazônia
Por Michelle Portela e Valmir Lima, da Agência Fapeam
Agência FAPESP – Pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa brasileiros querem adotar um modelo inovador para sediar pesquisas na Amazônia e contribuir para a conservação da biodiversidade ecológica e cultural da região. Para isso, movimentam financiadores e articulam uma rede internacional de apoio à idéia de um museu vivo.
Trata-se do Museu da Amazônia (Musa), iniciativa da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas (Sect) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), que já tem endereço. Será instalado em uma área de 15 km², dos quais 10 km² correspondem à Reserva Adolpho Ducke, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus.
A entrada do museu será feita pelo rio, no lago do Puraquequara, na zona leste da cidade. Da margem do rio até a reserva Ducke será construído o museu. “Temos um plano e diretrizes urbanísticas e agora começaremos a pensar na ocupação e na construção das casas, dos prédios, e o que se fará em cada um deles”, disse Ennio Candotti, coordenador-geral do projeto Musa.
Pensado como um projeto para ser desenvolvido em seis anos, a idéia, segundo ele, é construir um museu que seja espaço de encontro, não de subordinação, entre o conhecimento tradicional e o científico-acadêmico. “Não vemos o Musa como um centro em que os insetos sejam armazenados, mas um espaço preparado para pesquisa em ambientes vivos”, disse o professor da Universidade Federal do Espírito Santo.
A primeira fase da criação do museu compreende a discussão sobre a formulação do conceito e o modelo de execução, de acordo com Rita Mesquita, pesquisadora do Inpa e uma das idealizadoras do museu. “Queremos uma discussão conceitual sobre o museu”, afirmou.
Daí a importância de reunir em um workshop pesquisadores e representantes de museus, além de instituições de ensino e pesquisa nacionais e internacionais, para compor uma rede de trabalho voltada à consolidação do Musa, necessária para que a iniciativa possa abranger toda a Amazônia.
Na semana passada, cerca de 50 especialistas participaram de um workshop de três dias em Manaus e puderam trocar idéias com um dos maiores especialistas em museus de ciência, Jorge Wagensberg, presidente do Museu de Barcelona.
“Ele tem uma enorme experiência em projetos inovadores. Como o nosso interesse é apresentar um museu com a floresta ao vivo, é preciso pensar e encontrar pessoas que não se espantam com grandes desafios”, disse Candotti.
Wagensberg dirige atualmente um museu em Punta Arenas, no extremo sul do Chile, que usa câmeras e sensores de áudio para monitorar a vida aquática, principalmente de baleias e pingüins. Imagens e sons são apresentados aos visitantes em salas especializadas.
“Um museu de ciência deve ter objetos reais ou a máxima realidade possível. Os objetos devem ser expostos de forma que possam, por exemplo, explicar a história. No caso do Musa, devem contar a história da Amazônia”, disse Wagensberg.
A mesma experiência de uso das tecnologias da informação e da comunicação será desenvolvida no Musa. A proposta é instalar equipamentos eletrônicos em diversos ambientes da floresta para captar sons e imagens de insetos e animais e disponibilizar esse material, em tempo real, na internet e em ambientes de visitação no próprio museu.
Tecnologia e biodiversidade
O museu também será dotado de infra-estrutura para permitir ao visitante passear pela floresta e observar de perto plantas e animais. Segundo Candotti, também serão construídas torres na floresta para que ela possa ser observada por cima das copas das árvores.
Está incluída no projeto, ainda, a construção de um grande aquário para a manutenção de espécies de animais aquáticos da Amazônia. A instalação será construída próxima ao rio e a água passará por um processo de filtragem para garantir a visibilidade aos visitantes.
“Queremos ter ainda câmeras especiais em diferentes freqüências de luzes ultravioleta e infravermelha para que possamos ver o que os insetos e os animais vêem. Vamos nos colocar na pele deles ou nos olhos deles. Isso oferecerá subsídios para a pesquisa científica e também para a observação dos visitantes”, afirmou Candotti.
O modelo de gestão do Musa é uma preocupação entre os pesquisadores que participam do projeto, especialmente a necessidade de autonomia administrativo-financeira frente às gestões governamentais. De acordo com Candotti, a expectativa é que seja criada uma fundação de direito privado que mantenha a gestão distante das mudanças políticas. “Essa é uma proposta que garantiria a perenidade do museu”, disse.
Para Marcílio de Freitas, secretário executivo da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas, o museu poderia ter quatro princípios básicos: inclusão, liberdade de inovação, historicidade não-linear e valorização das tecnologias.
Ao defender a liberdade de inovação, ele afirma que o museu não pode trabalhar em função de editais. “O Musa deve ser local privilegiado da invenção. Além disso, a forma de apresentar a história no museu não deve ser linear, para sermos mais ousados e representarmos a história não pelo tempo cronológico, mas a partir da sua importância social”, destacou.
Crédito da imagem: M.Portella
(Envolverde/Agência Fapesp)
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