quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Envolverde - A riqueza dos cogumelos comestíveis da Amazônia


Por Caroline Soares, do Inpa

Manaus, AM — Formas, tamanhos e tons variados. Nem animal, nem vegetal, os cogumelos comestíveis são fungos – seres vivos sem clorofila. Além de saborosos, possuem alto valor nutricional e compõem receitas elaboradas.

Alimento tradicional na culinária japonesa, os cogumelos comestíveis ainda são pouco conhecidos na Amazônia, exceto pelas tribos indígenas, como os Ianomami, que os consomem como fonte de proteína. Em busca de mais conhecimento sobre estes fungos, a equipe da bióloga do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Noemia Kazue Ishikawa, passou a estudar o cogumelo amazônico Lentinus strigosus (Kasikoirima em Ianomami).

A dissertação "Cultivo micelial in vitro e elaboração de "semente-inóculo" de Lentinus strigosus, um cogumelo comestível isolado na Amazônia", da mestre em Agricultura no Trópico Úmido do Inpa, Ruby Vargas-Isla, a qual teve bolsa de pós-graduação pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), trouxe novidades como, por exemplo, a de que o clima amazônico pode contribuir com o cultivo, uma vez que a temperatura média de cultivo dos principais cogumelos no mundo é de 25ºC.

Desenvolvido na Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos (CPTA) do Inpa, sob a orientação de Ishikawa e co-orientação do pesquisador do Instituto, Rogério Eiji Hanada, o estudou revelou que o L. strigosus apresentou bom crescimento a 35ºC, além de resistência até 45ºC. Isto significa que produzir cogumelos (fungicultura), difícil tarefa no calor amazônico, pode ser mais fácil.

A fungicultura exige ambiente climatizado, o que acarreta gastos financeiros e emissão de gás carbônico (CO2), o qual contribue para o aquecimento global. “O planeta está aquecendo, e é cada vez mais difícil cultivar cogumelos. O L. strigosus é um fungo termófilo, mais resistente ao calor”, ressalta a pesquisadora.

E não é apenas a descoberta da resistência ao calor, que torna este cogumelo um grande potencial de cultivo comercial. “Relatos recentes mostram a ação de compostos isolados do L. strigosus contra o protozoário parasita da Doença de Chagas”, disse a pesquisadora. Existem, também, os benefícios para a saúde, já que os cogumelos comestíveis são alimentos funcionais, que unem efeitos nutricionais a medicinais. Rico em proteína, sem gordura, o cogumelo é alimento certo nas dietas.

Mas e o sabor, o L. strigosus é gostoso? Ishikawa garante que sim. Diz que o cogumelo amazônico tem o sabor diferente de qualquer outro fungo comestível. O sabor foi descrito pela primeira vez, por ela e por Vargas-Isla. “Nós experimentamos este cogumelo salteado com margarina e um pouco de sal, e achamos que tem um bom sabor, um forte gosto de umami (ver glossário) e é ligeiramente fibroso”, explica Ishikawa.

A pesquisadora alerta

Não se deve sair em busca do L. strigosus na mata para o consumo sem uma orientação adequada, pois a diversidade de cogumelos na Amazônia é muito grande e pouco conhecida. Assim, enganos com cogumelos venenosos podem ocorrer. A própria cientista só encorajou-se a comê-lo depois de ter certeza que este era comestível, através da identificação taxonômica (ciência da identificação dos seres). O L. strigosus, ainda, não é cultivado, nem pode ser encontrado nos supermercados, mas é um forte candidato para o futuro da fungicultura na região.

Glossário

Umami: considerado o quinto sabor o umami pode ser comparado ao gosto de carne e ser acentuado por temperos a base de glutamato monossódico.


(*) É repórter da Assessoria de Comunicação do Inpa, em Manaus (AM).

Crédito de imagem: Inpa/Divulgação


(Envolverde/Inpa)

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