terça-feira, 28 de setembro de 2010

Privados discutem custo de biodiversidade

Em reunião no Japão, em outubro, serão apresentados estudos sobre os custos econômicos da falta de preservação

Segundo as Nações Unidas, a humanidade perde de US$ 2 tri a US$ 4,5 tri a cada ano com danos ambientais

ANDRÉ PALHANO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O fracasso das negociações internacionais para conter o ritmo de perda da biodiversidade no planeta até 2010 e as perspectivas pouco animadoras para a reunião de Nagoya (COP 10), no Japão, vêm aumentando a pressão sobre o setor privado para que assuma parte da responsabilidade.

É um movimento semelhante ao que ocorreu no ano passado, nas discussões sobre mudanças climáticas, em que a falta de convergência para chegar a um amplo acordo entre governos acabou ampliando a importância das ações envolvendo empresas e organizações.

Os argumentos para atrair o setor corporativo também se repetem. E focam um aspecto que toca fundo às corporações: os potenciais impactos econômicos sobre os negócios gerados pela perda da biodiversidade.

"Continuamos destruindo a biodiversidade porque ainda não conseguimos olhar para os benefícios da conservação em termos econômicos", defende o economista indiano Pavan Sukhdev.

O indiano coordenou o estudo "A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade [TEEB, na sigla em inglês]", promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Para Sukhdev, empresas devem assumir papel de liderança nessa discussão. "E não porque achem isso bonito ou simpático, mas, sim, porque estamos falando de impactos bilionários, que afetam praticamente todos os setores produtivos." ESTUDO AMPLO

Desenhado para orientar as discussões em Nagoya, em outubro, o TEEB é considerado o mais completo estudo já realizado sobre o valor econômico da biodiversidade.

Calcula quanto valem os "serviços" prestados pelos ecossistemas à humanidade (como a regulação do clima, a polinização de flores etc.).

Os resultados, ainda que longe de gerar consenso, impressionam. Segundo a ONU, a humanidade perde de US$ 2 trilhões a US$ 4,5 trilhões por ano com a destruição da biodiversidade.

O cálculo só leva em consideração a destruição relacionada a florestas, mananciais e vegetação dos mangues, deixando de fora, por exemplo, mares e oceanos.

Representantes da ONU prometeram divulgar em breve um estudo específico para as condições brasileiras.

"A maior biodiversidade do planeta se encontra nas florestas do Brasil, que detêm cerca de dois terços de todos os recursos genéticos do globo, excluindo-se os oceanos", aponta o professor Mário Christian Meyer, diretor do Programa Internacional de Salvaguarda da Amazônia (Pisad).

Especialistas torcem para que esse tipo de levantamento resolva o problema da falta de métricas financeiras e pesquisas objetivas sobre biodiversidade, que consideram a principal causa da aparente indiferença da sociedade em relação ao assunto.

"Dos três grandes temas que nortearam os debates da Eco 92, que são biodiversidade, florestas e clima, somente o primeiro ficou esquecido, pouco quantificado do ponto de vista econômico e carente de regulação", aponta Beto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon.

"O maior desafio é fazer com que os ecossistemas tenham mais valor preservados do que sendo usados para outros fins", diz Tasso Azevedo, consultor de Sustentabilidade, Florestas e Clima.

De acordo com estudo que será publicado brevemente pelas Nações Unidas, as 3.000 maiores companhias do planeta são hoje responsáveis por impactos ambientais que, na ponta do lápis, somam cerca de US$ 2,2 trilhões anualmente.

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