quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Crescer sem desmatar

Paragominas, encravada numa área de conflitos no Pará, aparece como um exemplo de crescimento e de freio no desmatamento da floresta; desafio da região amazônica é conter a derrubada de árvores e, ao mesmo tempo, criar empregos e distribuir renda para seus habitantes

RODRIGO VIZEU
ENVIADO A PARAGOMINAS (PA)

Promessas de obras sociais e de infraestrutura costumam pautar discursos de candidatos do Norte, em vez de propostas de combate ao desmatamento, aquelas que fazem a cabeça de ambientalistas por todo o mundo. A região mais tensa da Amazônia é o arco da expansão da fronteira agrícola, que inclui Mato Grosso (no Centro-Oeste), Pará e Rondônia.

"Governante que não dá emprego e promete o fim do desmatamento perde votos.

Ambiente é importante, mas não mais que tuberculose, fome e miséria", afirma o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Pará, Carlos Xavier.

Para o pesquisador Paulo Amaral, do Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), o caminho para engajar a elite local na defesa da floresta é econômico. "Eles não vão ser verdes enquanto não saírem do vermelho", afirma.

O Imazon ajudou Paragominas (306 km de Belém) a ser o primeiro município do país a deixar a lista de campeões do desmatamento. A economia local é baseada em agropecuária e mineração. No passado, era chamada de "Paragobala", devido à violência rural.

O município criou um programa de conscientização, cadastrou mais de 90% dos imóveis rurais, reduziu o desmatamento a menos de 40 km2 por ano, o equivalente a 5,6 campos de futebol, e criou uma lei ambiental mais restritiva do que a federal.

MARKETING

O prefeito Adnan Demachki (PSDB) admite que só se engajou na causa verde após cortes de financiamentos e operações da Polícia Federal contra o desmate ilegal.

Ele conta que "queimou muita popularidade" para convencer produtores e trabalhadores, que viam os ganhos e empregos caírem pelos custos de cumprir a lei.

Os empregos sumiram das madeireiras, mas cresceram na indústria da transformação e no reflorestamento.

O presidente do sindicato rural da Paragominas, Mauro Lúcio Costa, criou uma fazenda modelo de sustentabilidade na vizinha Tailândia. Ele conta que, em parte, tomou medidas ambientais para atrair a simpatia dos meios de comunicação.

"Eu sofria muita pressão de invasores, daí comecei a divulgar que preservo 80% da minha propriedade, que é uma coisa bonita para a mídia, para vocês serem os primeiros a me defenderem se eu for invadido", afirma.

Apesar dos avanços e do marketing profissional que divulga os feitos da cidade, a Folha flagrou, em dois dias no município, fornos clandestinos de carvão e extração ilegal de madeira.

O pesquisador Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra, diz que as cidades amazônicas que despertaram para a questão ambiental apenas "começaram um dever de casa", que parece muito devido à situação de caos ambiental na maior parte da Amazônia.

"A regra é a autoridade pública não pregar a legalidade, mas sim justificar a ilegalidade. E há pouca perspectivas de melhora entre os candidatos que estão aí", afirma.

Colaborou JOÃO CARLOS MAGALHÃES , de Belém |

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