segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ar da Amazônia tem muito a ensinar

Marília Montich

Imagine um lugar no mundo onde o ar é verdadeiramente puro como séculos atrás, quando a ideia de industrialização nem passava pela cabeça do homem. É difícil acreditar, mas ambientes assim ainda existem, e a Amazônia é um deles.


Isso acontece porque, além da região dos pólos e das ilhas remotas, a nossa floresta apresenta uma baixa concentração de aerossóis. "São partículas suspensas no ar que funcionam como uma semente na formação de uma nuvem, já que a condensação acontece sobre elas", explica o professor de Física do campus Diadema da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Theotônio Pauliquevis, um dos pesquisadores de estudo realizado na Amazônia no início de 2008 por cientistas de diversas partes do mundo, publicado na edição deste mês da revista Science.

Pauliquevis explica que um grão de pólen ou um fungo é um aerossol. No entanto, a poluição de carros, indústrias ou mesmo as queimadas são fontes dessas partículas. Por isso, um lugar bastante poluído conta com uma quantidade elevada do elemento.

Segundo o professor, a Amazônia apresenta apenas 200 partículas por centímetro cúbico na estação chuvosa e em locais distantes da fronteira agrícola. Para se ter uma ideia, no Hemisfério Norte, onde a ação humana impõe seus efeitos, há cerca de 30 mil partículas por centímetro cúbico.

Esta, no entanto, não foi a primeira medição do tipo realizada por cientistas. Pode-se dizer, entretanto, que ela revelou resultados mais específicos até hoje. "Levamos instrumentos de última geração, com os quais conseguíamos fazer medições de minuto a minuto, por exemplo", diz Pauliquevis. "Além disso, a diferenciação entre os aerossóis emitidos pelas plantas e aqueles produzidos pelos gases emitidos por elas foi melhor determinada agora do que em experimentos anteriores."

Ainda de acordo com o pesquisador, o estudo não traz soluções para as condições climáticas da Terra, mas serve como base para pesquisas futuras. "Estamos no momento de entender como estamos alterando o clima do planeta, por isso, precisamos saber como ele funciona com e sem a influência humana", afirma. "Temos de ter um referencial do que é um mundo limpo para dizer o que é um mundo alterado, por isso esse tipo de medição é tão importante."

Nenhum comentário: