A COP 10, que acontece em outubro, no Japão, deve aquecer as discussões sobre biodiversidade
Conservar a biodiversidade vai além de garantir a vida das pessoas e do Planeta. Pode também render dividendos econômicos, uma vez que, num mundo globalizado, para manter a saúde financeira dos países é preciso investir em todas as cadeias produtivas, envolvendo desde a plantação, passando pela indústria, até o consumo.
Com as mudanças climáticas, as pessoas passaram a compreender melhor que é preciso conservar a biodiversidade, sob a pena de ações como desmatamentos, poluição e degradação do meio ambiente significarem baixa no PIB e outras perdas econômicas. Mas a conservação implica em maior aplicação de recursos em pesquisas, educação ambiental e efetivação de políticas públicas.
Quando se fala em biodiversidade, pensa-se logo na Floresta Amazônica, ícone mundial na luta pela preservação dos recursos naturais. Porém, é preciso lembrar que o País não pode fechar os olhos para outros biomas como, por exemplo, o Cerrado, a Caatinga, as comunidades costeiras e de mangues.
No Ano Internacional da Biodiversidade, e quando se aproxima a Conferência das Partes da Convenção Diversidade Biológica (COP10/CDB), a ser realizada entre 18 e 29 de outubro, em Nagoya (Japão), o assunto ganha cada vez mais destaque nas discussões envolvendo autoridades e ambientalistas do mundo todo. O superintendente de conservação do WWF-Brasil, Cláudio Maretti, na entrevista "o valor da biodiversidade e repartição de benefícios" destaca o potencial econômico dessa prática e o mecanismo de repartição de benefícios de recursos genéticos: "Estudos mostram que a perda da biodiversidade pode significar um impacto de trilhões de dólares na economia mundial, enquanto um investimento bem menor na conservação da biodiversidade poderia evitar esse impacto", revela.
Defende, ainda, que o tema preservação ambiental deve ser debatido de forma transversal, envolvendo todos os setores da sociedade. De acordo com Cláudio Maretti, o Brasil "tem feito muito pela conservação da biodiversidade, embora ainda insuficiente". O que não significa o reconhecimento de alguns pontos positivos, apontando dentre outros, "a redução do desmatamento na Amazônia e a criação de áreas protegidas também na Amazônia".
Outro ponto destacado diz respeito ao investimento, ou seja, "para conservar é preciso que o País tenha mais recursos". Mesmo reconhecendo o valor econômico da biodiversidade, adverte que o País não deve encarar o agronegócio apenas na perspectiva do lucro. Problema relacionado ao tema, a biopirataria, Cláudio Maretti, afirma que não será resolvido apenas com leis mais rígidas, defendendo o conhecimento e o uso da biodiversidade. Considera que o combate à biopirataria não se resume a um maior controle nos aeroportos e da exportação. "Deve acontecer muito mais pelo investimento em pesquisas", considerando importante o Brasil ter assinatura no protocolo de ABS (Acesso e Repartição de Benefícios) que ajuda na conservação, compensação e repartição de benefícios, que devem auxiliar no desenvolvimento de estudos e também de um ambiente de negócios.
Tema polêmico
Conforme Rodrigo Castro, secretário executivo da Associação Caatinga, a definição de critérios e procedimentos a serem pactuados, em âmbito global, para influenciar políticas nacionais para o ordenamento da repartição dos benefícios provenientes da biodiversidade será um dos temas mais polêmicos da COP 10. Chama a atenção para as regiões secas do Planeta, a exemplo do semiárido nordestino. Restrição hídrica severa, queda de produtividade de grãos são algumas das principais consequências para as populações nessas regiões.
"No caso da biodiversidade, projeções mostram o avanço das áreas desertificadas nas regiões semiáridas no futuro, reduzindo drasticamente as condições de vida para grande parte das espécies", esclarece. No Brasil, a discussão sobre a biodiversidade passa também por outra, a revisão do Código Florestal Brasileiro. Um dos principais argumentos dos ruralistas é a falta de terra para o plantio e produção de animais, propondo a redução das restrições legais sobre o uso da terra.
No Brasil, "já existem muitos exemplos de proprietários rurais que agregam valor ao seu sistema produtivo através da conservação da biodiversidade". O País contabiliza quase mil Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) em propriedades rurais, criadas pelos proprietários com o objetivo de assegurar a biodiversidade nativa.
Rodrigo Castro lamenta a situação do bioma Caatinga, cuja devastação atinge 50% de sua área. Somente nos últimos oito anos, foram desmatados 2% da superfície do bioma, implicando na aceleração do processo de desertificação da Caatinga.
IRACEMA SALES
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