O desmatamento acumulado dos últimos 12 meses na Amazônia foi 46% menor do que no ano anterior, segundo números divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os dados são do período de agosto de 2008 a julho de 2009, que corresponde ao chamado ano fiscal de monitoramento da região. As estatísticas apontam para uma forte tendência de queda no ritmo de derrubada da floresta. Mas com uma ressalva: na soma de junho e julho, houve aumento de 18,5% em relação aos mesmos dois meses de 2008 - o que pode sinalizar uma inversão da curva.
Por Herton Escobar
Dados do Inpe apontam queda da derrubada da floresta em 12 meses; junho e julho, porém, sinalizam inversão
A maior parte do desmatamento foi detectada no Pará (47% do total), que só ficou visível nas imagens de satélite a partir de junho, por causa da forte cobertura de nuvens. A área de florestas derrubadas ou degradadas no Estado aumentou 22,5% nos 12 meses, enquanto no Mato Grosso houve queda de 68,5% (mais informações nesta página).
Em números quantitativos, a área total desmatada no bioma no período 2008-2009 foi de 4.375 km², comparada a 8.147 km² no período anterior.
Os dados são do sistema Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que utiliza imagens de baixa resolução e só "enxerga" áreas maiores do que 25 hectares. Por isso as indicações de tendência (em porcentagem) são mais importantes do que a quantificação das áreas desmatadas (em quilômetros quadrados). O cálculo oficial de área é feito por um outro sistema, chamado Prodes, que utiliza imagens de melhor resolução - e cujos dados só ficam prontos no fim do ano.
Segundo o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, é impossível fazer uma previsão sobre o Prodes com base no Deter. "Já tentamos fazer essa relação em outros anos e descobrimos que é muito mais difícil do que parece", disse ele ao Estado.
Há muitos desmatamentos que não aparecem no Deter por serem menores do que 25 hectares. Além disso, o Prodes contabiliza apenas áreas de corte raso (onde a floresta foi totalmente derrubada), enquanto o Deter mistura esse tipo com a degradação florestal. "O que podemos dizer é que a tendência é de queda. Mas a intensidade dessa redução é difícil de prever", avalia Câmara.
Ele atribui a diminuição a uma combinação de fatores, incluindo ações de governo, crise econômica mundial e ações proativas por parte de empresas do setor agropecuário.
Para cumprir a meta do Plano Nacional de Mudanças Climáticas - de diminuir em 40% a média anual de desmate no período 2006-2009, em relação à média dos dez anos anteriores -, o desmatamento medido pelo Prodes neste ano não poderá ser maior do que 8.250 km², o que significa uma redução de 35,7% em relação a 2008.
ARCO QUEBRADO
O mapa dos alertas de desmatamento do Deter revela uma mudança na distribuição das frentes de ocupação da Amazônia. "É o fim do arco do desmatamento", diz Câmara. Antes concentradas nas bordas da floresta com o cerrado, as atividades predatórias estão, agora, mais espalhadas pelo interior do bioma, principalmente no Pará (veja mapa nesta página). As áreas mais preocupantes estão no entorno da BR-163 (Cuiabá-Santarém), na chamada Terra do Meio, e no oeste paraense.
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