terça-feira, 29 de setembro de 2009

Folha - Brasil vai acelerar monitoramento de CO2

Rede de pesquisa fará cálculo de emissões de gases-estufa pelo país, tarefa que antes era encomendada por ministério

Por RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Inventário atual, porém, não ficará pronto a tempo para a conferência que vai negociar novo acordo global do clima, em dezembro

A partir de 2010, o documento que detalha a emissão de gases do efeito estufa pelo Brasil deverá sair com mais frequência e ser mais transparente. O levantamento mais completo já feito sobre o tema, porém, não ficará pronto para a COP-15 -a conferência do clima de Copenhague, em dezembro, que negociará o novo tratado de combate ao aquecimento global.

O inventário brasileiro de emissões de gases do efeito estufa, atribuição hoje do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), é um documento compulsório que o Brasil precisa entregar como membro da UNFCCC, a convenção do clima das Nações Unidas. O relatório atual, que está nos estágios finais de produção, deve cobrir todas as fontes de emissões brasileiras -indústria, agricultura, energia, desmatamento etc.- de 1990 a 2000.

"As pessoas dizem que é preciso ter inventário para a COP-15, mas a COP-15 não tem discussão de inventário", diz José Miguez, coordenador-geral de Mudança Global do Clima do MCT. A pressa em ter um documento a ser mostrado em Copenhague -que parte de cientistas e ambientalistas- pode comprometer a qualidade do relatório, diz o engenheiro.

Analista de pesquisa da Petrobras cedido ao MCT desde 1994, Miguez é, há quatro governos, o principal formulador da política brasileira de clima. Ele é atacado por ambientalistas pelas posições do Brasil na área, consideradas retrógradas.
Em entrevista à Folha, Miguez criticou a iniciativa do Ministério do Meio Ambiente de produzir um relatório informal estimando o perfil brasileiro de emissões até 2008. O levantamento apontou que a recente queda no desmatamento teve um efeito bom, mas mostrou que a produção de energia no país se tornou 30% mais suja.
"Esse inventário [do MMA] não tem nenhuma confiabilidade", diz o cientista. "O inventário do Brasil quem faz é o MCT. Nós temos o prazo até o ano que vem para apresentar, podendo atrasar um ano."

Segundo Miguez, o dado do Meio Ambiente é impreciso porque não inclui a adoção de medidas do chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. "No setor químico, a gente já está com emissão zero de N2O [um dos gases-estufa], e eles não colocaram."
Segundo Miguez, a necessidade de tempo para o inventário é questão de qualidade, e não uma estratégia do Brasil de esconder informação para ganhar poder de negociação.

Transparência
Os dados que são usados no documento, de um jeito ou de outro, ganharão mais transparência a partir do ano que vem. Em uma decisão já confirmada pelo ministro Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia), a coleta da maior parte dos dados usados no inventário será feita pela Rede-Clima, um consórcio federal de pesquisa criado em 2007, que promete disponibilizar seus dados na Internet.

Segundo Carlos Nobre, climatólogo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que lidera a iniciativa, pesquisas que precisavam antes ser encomendadas pelo MCT serão feitas regularmente agora por instituições da rede.
A Embrapa será encarregada de contar as emissões no setor agrícola, a UFRJ no setor de energia, o Inpe no desmatamento e a Cetesb no manejo de resíduos. Todos os dados serão divulgados assim que estiverem revisados, diz Nobre.

"Precisamos parar com esse negócio de o inventário ser um produto em si próprio, uma letra morta", diz. Ele nega, porém, que a entrada da Rede-Clima seja uma ruptura com a política do MCT. "Não vamos reinventar a roda, mas aproveitar o que já foi feito", diz. Para Rezende, o inventário será "mais rápido e mais confiável" por envolver mais cientistas.

Nobre estima que será possível o Brasil recolher dados suficientes para relatar suas emissões de modo completo à UNFCCC a cada três anos, mesmo que isso não seja compulsório. A atribuição de formatar o relatório para a convenção, porém, continua com o MCT, que produziu dois inventários num espaço de 15 anos.

Crise freia emissões de exportações

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A queda das exportações brasileiras em decorrência da crise financeira fez o Brasil lançar 9,7 milhões de toneladas de gás carbônico a menos na atmosfera, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). As emissões evitadas na crise equivalem a quase 1% das emissões totais do país.

O trabalho calculou a redução de emissões de agosto de 2008 a junho de 2009. O estudo ficou restrito aos principais produtos de exportação.
Os impactos mais significativos foram da indústria de ferro e aço. No período de 11 meses, a queda nas exportações teria evitado a emissão de 7,5 milhões de toneladas de CO2.

A indústria automobilística aparece em segundo lugar. Considerando apenas as exportações de automóveis, 1,8 milhão de toneladas de carbono deixaram de ser lançadas.
Segundo o coordenador do estudo, José Aroudo Mota, não há dados disponíveis para estimar a queda total das emissões nacionais. (MARTA SALOMON)


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