Desde o mês passado, o engenheiro agrônomo e mestre em sensoriamento remoto e geoprocessamento Cláudio Almeida tem novos desafios. É ele o chefe da nova unidade do Centro Regional da Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CRA/Inpe), cuja sede é em Belém (PA), inaugurado em agosto.
Por Thais Iervolino
Para saber mais sobre as atividades da nova unidade do instituto, o Amazonia.org.br fez uma entrevista exclusiva com Almeida. Nela, o chefe do CRA disse que, apesar de 20% da área florestal devastada na Amazônia estar em processo de regeneração, esta não é permanente, já que a vegetação secundária é desmatada em aproximadamente cinco anos.
Veja abaixo a entrevista completa:
Amazônia.org.br - Quais as ações prioritárias do CRA atualmente?
Cláudio Almeida - Estamos fazendo uma classificação da área já desflorestada da Amazônia Legal. Dos 710 km² que já foram desflorestados na Amazônia Legal, estamos olhando quanto de vegetação secundária foi utilizada, quais áreas estão em processo de regeneração.
Estamos analisando como a área desflorestada está sendo usada. Quanto disso tem de agricultura, quanto tem de pecuária.
Amazônia.org.br - Quando foi o início das atividades?
Almeida - Isso começou em janeiro e, no dia 28 de agosto, houve uma inauguração oficial do centro. E neste dia a gente entregou o primeiro estudo: análise da área de vegetação secundária do Mato Grosso, Pará e Amapá.
Até novembro vamos concluir o monitoramento da vegetação secundária em toda a Amazônia brasileira e, até meados do ano que vem, queremos concluir o monitoramento sobre o uso da terra.
Amazônia.org.br - Na sua opinião, qual seria o destaque do estudo entregue em agosto?
Almeida - Analisamos como está a distribuição da vegetação. No Mato Grosso, 11% da área desflorestada apresentou algum estágio de degeneração. No caso do Pará, foram 22%. No Amapá, 25%.
Isso está mais ou menos de acordo com as estimativas que tínhamos. Para a Amazônia como um todo, de acordo com nossas expectativas, é que cerca de 20% da área desmatada tem algum grau de degeneração.
Amazônia.org.br - Qual a importância desta iniciativa?
Almeida - Até hoje o Brasil não conhecia como estavam sendo usadas as áreas desmatadas. O Inpe, desde 1988, vem fazendo o mapeamento da área desflorestada, ou seja, detectando o que a gente perdeu de floresta. Mas nenhuma organização olhou a Amazônia como um todo para ver qual era o uso da terra, se a floresta está sendo convertida para o uso da pecuária, da agricultura, se ela foi abandonada... É importante saber o que está acontecendo para planejar ações, traçar metas para o futuro.
Amazônia.org.br - Qual a função da vegetação secundária?
Almeida - Ela tem funções muito importantes: mantém a biodiversidade - porque é a própria floresta que se regenera, mesmo em um número menor - e mantém o ambiente florestal, servindo de abrigo para espécies.
A vegetação secundária também funciona como um corredor ecológico, permitindo a locomoção de populações de animais que estão em dois bancos florestais diferentes.
Outro papel importante é na absorção de carbono. À medida que a floresta se regenera, essa vegetação está absorvendo o carbono.
Amazônia.org.br - Essa vegetação secundária é permanente?
Almeida - É importante dizer que essa vegetação secundária não fica ali eternamente. Um estudo que a gente fez foi que, entre cinco e sete anos, ela será cortada novamente. Não é uma constante.
Ela será cortada aqui e crescerá em outra área. É algo móvel, o cara devasta aqui e, na outra área que ele tinha devastado, está crescendo a vegetação. Depois ele volta, e corta. Essa capoeira fica "rodando" de lugar. Algumas ficam 30, 40 anos, mas são muito poucas.
Amazônia.org.br - Você disse que no Mato Grosso, por exemplo, 11% das áreas florestais devastadas são regeneradas. E o que acontece com o resto?
Almeida - Saber isso é o nosso próximo passo. Até novembro vamos acabar o monitoramento das áreas regeneradas em toda a Amazônia Legal. A partir disso, vamos analisar o uso da terra. Vamos mostrar como está a parte que está sendo usada.
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