quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Folha - Ministério propõe cortar até 40% do CO2

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cálculo foi feito para 2020 em relação à tendência atual das emissões brasileiras e baseará proposta para Copenhague

Proposta levada a Lula por Carlos Minc considera um crescimento econômico de 4% ao ano; redução incluiria desmatamento e energia

O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) apresentou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma proposta de reduzir em até 40% as emissões totais de gás carbônico do Brasil em 2020 em relação à tendência atual do país, sem prejudicar um crescimento médio nacional de 4% ao ano.

Esta deve ser a parte fundamental do "desvio significativo" da trajetória de emissões do país, que Lula prometeu na ONU que defenderia na conferência do clima de Copenhague, em dezembro.

Se encampada pelo Planalto, a proposta do Meio Ambiente equivalerá à meta brasileira contra o aquecimento global, e traria as emissões em 2020 de volta aos níveis de 1990.

"Metade desse corte [20%] poderá ser conseguido com uma redução de 80% no desmatamento da Amazônia até lá", disse à Folha Suzana Kahn Ribeiro, secretária de mudanças climáticas do MMA (Ministério do Meio Ambiente).
Os outros 20% viriam do controle do desmatamento de outros biomas, como o cerrado e a caatinga, e com uma renovação ainda maior da matriz energética nacional.
Caso nada seja efeito, daqui a 11 anos o Brasil estará lançando na atmosfera 2,8 bilhões de toneladas de gás carbônico.

A proposta de redução, porém, dependeria de um financiamento anual de cerca de US$ 10 bilhões, o que viria de de países desenvolvidos.
"Não podemos aceitar que coloquem nos países em desenvolvimento o peso sobre a redução da emissão de gases", disse Carlos Minc.
Na reunião de ontem com Lula, a proposta de Minc foi uma das três apresentadas. O Ministério de Ciência e Tecnologia e o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas também levaram suas ideias ao presidente, que sugeriu um consenso até o próximo dia 20.
O Itamaraty também participou da reunião de ontem. No entanto, somente o MMA trouxe números à mesa.
Diante do que foi apresentado em Brasília ontem, dois problemas iniciais surgem.
O real controle sobre o desmatamento é um deles. A implantação de políticas públicas eficientes para que a outra parte do corte sugerido ontem seja alcançado é outro gargalo.

O Brasil não tem um sistema eficiente de monitoramento da derrubada de outros biomas. No setor energético, também, a tendência recente tem sido a entrada em operação de usinas termelétricas, que sujaram em 30% a matriz energética nacional entre 1994 e 2007.

Efeito Marina

Presente à reunião, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) fez pelo menos dois pedidos aos representantes dos ministérios. Que novos cálculos fossem feitos com uma taxa de crescimento anual maior, de até 6%, e que a política da construção de hidrelétricas fosse ainda mais fortalecida -cobrando de Minc agilidade nos licenciamentos.

O problema desse último desejo da ministra, como sabem os próprios representantes do MMA, é que grandes obras na região amazônica nem sempre primam pela preservação ambiental. "Mas isso é uma questão que precisa ser equacionada", diz Tasso Azevedo, consultor do MMA que montou os cenários apresentados.
Segundo relato de pessoas presentes à reunião, Dilma se espantou ao saber que o Brasil emite mais CO2 que o Japão.

Pré-candidata à Presidência da República, a ministra diz que irá a Copenhague, onde sua rival política, Marina Silva, é presença garantida.

Com o tema ambiental na agenda para a eleição de 2010, Lula também tem dado atenção especial ao clima. Ontem o presidente tratou do assunto ao telefone com Barack Obama, a quem telefonou para parabenizar pelo Nobel da Paz. Lula e Obama se comprometeram a colocar em contato as equipes técnicas dos países nestas semanas que antecedem a conferência.

Indústria apresenta proposta conservadora para Copenhague


Por CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) aproveitou ontem a vinda de Al Gore ao Brasil para apresentar suas propostas para a conferência de Copenhague. O documento não fala em metas de corte de emissões para o setor, limitando-se a elogiar o Brasil como "economia verde" e a listar tópicos "para o debate".

O documento diz que, no âmbito da COP-15 (a conferência de Copenhague), "o que se espera do Brasil são compromissos de erradicação do desmatamento ilegal". Não menciona o crescimento de 77% das emissões do setor industrial e de 56% no de transportes (acima do PIB) entre 1994 e 2007.

Afirma que a Fiesp "não se omitirá" diante do impacto causado pelas mudanças climáticas e liderará a produção de inventários e estudos setoriais para estimular as empresas a adotarem, voluntariamente, metas de redução.
Mas diz também que os compromissos assumidos na COP-15 deverão ter como prioridade a "inclusão social e o nivelamento de assimetrias regionais" -ou seja, desenvolvimento em primeiro lugar.

As principais propostas são para o comércio, com a intenção de refutar leis nacionais sobre clima que possam distorcer o comércio internacional. Na área de energia, a Fiesp defende "adequar a participação" de geração por biomassa e vento, além de nuclear e gás natural.

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