domingo, 27 de setembro de 2009

OESP - Números do governo são ‘muito altos’

Especial Cerrado

Herton Escobar, enviado especial

Dados de monitoramento por setélite sobre desmatamento no Cerrado são divergentes

- Um problema que o Cerrado tem em comum com a Amazônia são as divergências entre dados de monitoramento por satélite. Os números de desmatamento calculados por cientistas da Universidade Federal de Goiás (UFG) são diferentes dos divulgados no início do mês pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Para o Centro de Sensoriamento Remoto do Ibama, responsável pelos dados do MMA, o Cerrado perdeu, até 2008, 48% de sua cobertura vegetal original. Na avaliação do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da UFG, essa perda foi de 41%. O dado da universidade é mais atual: vai até 2009.

Os cálculos do governo são mais catastróficos. Segundo o Ibama, a média de desmatamento no Cerrado entre 2002 e 2008 foi de 21.260 km²/ano, o que equivale a uma perda anual de 1% da área original do bioma. Segundo o Lapig, a média no mesmo período foi de "apenas" 5.602 km²/ano. Se for incluído o ano de 2009, a média cai para 5.230 km²/ano.

Sem minimizar a gravidade da situação - evidente em ambos os cenários -, o diretor do Lapig, Laerte Ferreira, questiona a precisão dos dados do MMA. "Os números me parecem muito altos", diz. "Tenho dificuldade em aceitar que o ritmo de desmatamento hoje é igual ao das décadas de 80 e 90 (1,3% ao ano), quando a disponibilidade de terras e os incentivos para desmatar eram muito maiores. Não é isso o que vemos no campo."

As diferenças vêm tanto de questões técnicas e metodológicas quanto de dificuldades "naturais" de interpretação das imagens do Cerrado, impostas pela alta variabilidade de paisagens e condições climáticas do bioma. Na Amazônia, o contraste entre uma área com e sem floresta é evidente. Já no Cerrado, a diferença entre um campo natural e uma pastagem pode ser sutil, especialmente na época de seca. "É fácil errar para mais", diz Ferreira.

Mesmo na Amazônia há divergências profundas entre os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Em 2008, segundo o Inpe, foram desmatados 12.911 km² na Amazônia. Segundo o Imazon, 5.031 km².

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