segunda-feira, 19 de maio de 2008

OESP - Militares em parques e reservas

Por Cássio Bruno

Minc vai propor hoje a Lula que Forças Armadas ocupem áreas de preservação

Onovo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem que vai propor ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o uso das Forças Armadas — em especial o Exército — no patrulhamento de parques nacionais e reservas extrativistas, principalmente na Amazônia. Essa é uma das dez propostas que Minc levará a Lula na audiência que os dois terão hoje à tarde em Brasília.

Segundo Minc, a iniciativa é parecida com o projeto já adotado no Estado do Rio, os chamados guardas-parques, formados pelo Corpo de Bombeiros e criados em dezembro pelo governador Sérgio Cabral (PMDB).

— Vou propor a criação de destacamentos ou a alocação de regimentos das Forças Armadas para funcionar dentro dos grandes parques e também nas reservas extrativistas — disse Minc ao desembarcar no Aeroporto Internacional Tom Jobim, vindo de Paris.

O ministro chegou querendo mudar a impressão de arrogância que causou a assessores de Lula. A entrevista coletiva concedida por ele, na sexta-feira, em Paris, causou desconforto no Planalto. Minc disse aos jornalistas brasileiros e estrangeiros ter aceitado “em tese” o convite do presidente e que Lula não o fará “pagar um Minc leão dourado”. Um dos interlocutores atribuiu as declarações do novo ministro “a seu jeito folclórico”.

— Na verdade, são muito mais condições que foram postas a Lula. Sérgio Cabral me deu condições excepcionais. Coloquei com honestidade, ao contrário da arrogância. Arrogância seria pensar que eu pudesse enfrentar o problema ambiental do Brasil, cem vezes mais complicado que os do Rio de Janeiro, sem ter o mínimo de condições de trabalho.

Arrogância seria se eu me achasse um SuperMinc, tendo ou não tendo condições. Sem condições não se resolve — explicou Minc.

Ele insistiu que precisa de garantias e que o meio ambiente precisa participar da política tecnológica e da política econômica: — Se eu não tiver condições administrativas, financeiras e políticas, vai ser grande a frustração para mim e para o presidente.

Novo ministro foge de polêmica e elogia PAS

Por outro lado, Minc preferiu não criar mais polêmica em relação ao Programa Amazônia Sustentável (PAS). Um dos estopins para a saída de Marina Silva do Meio Ambiente foi justamente a escolha do ministro do Núcleo de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, para coordenar o projeto. Minc elogiou o programa e Mangabeira.

— O presidente Lula atribuiu a ele a idéia de pensar o plano para o futuro globalmente.

Não é uma coisa absolutamente má. Mangabeira está treinado para isso. Mas quero incorporar ao PAS o Plano de Desmatamento Zero em sete anos, que é um projeto elaborado por algumas ONGs e fundações, com recursos internacionais e alternativas para diminuir o desmatamento — disse Minc, que, antes do encontro com Lula, às 17h30m, vai almoçar com Marina Silva.

Em resposta às críticas de ruralistas de que seria um “ambientalista de Copacabana”, Minc disse que, no exterior, sentiu o impacto da saída de Marina, e teve de afirmar a jornalistas estrangeiros que a Amazônia não viraria carvão.

— Se eu fosse elogiado pelos ruralistas, ficaria preocupado. Com o afastamento de Marina, a primeira sinalização foi de que a Amazônia está sem defesa. A defensora da Amazônia saiu e, agora, ela está entregue. A imprensa da França quis saber qual a garantia que eu tenho de que a Amazônia não será devastada, já que sua principal defensora jogou a toalha. Eu, que não pedi para ser ministro, disse por que a Amazônia não ia virar carvão: a gente vai manter a política de Marina e boa parte dos quadros dela — disse Minc.

Ele mostrou-se preocupado por ser chamado de agilizador de licenças ambientais. Em sua gestão no Rio, foram liberadas 2.068 licenças.

— Você pode ser rápido e rigoroso. Não é porque um licenciamento demora três anos que isso é garantia de defesa dos ecossistemas. Podem ficar três anos enrolando com a burocracia e ser um licenciamento frouxo — disse Minc, citando o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, que recebeu licença em seis meses.

Minc não descartou a possibilidade de convidar o ex-governador do Acre Jorge Viana (PT) para trabalhar na sua equipe. O petista recusara a proposta para o de ministro: — Acho que Jorge Viana tem muito mais condições de ser ministro do que eu, já foi governador, conhece a Amazônia muito bem, tem trânsito com outros partidos.

Ontem Minc se reuniu num restaurante com sua equipe, que incluiu a presidente da Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla), Marilene Ramos; o presidente do Instituto Estadual de Florestas do Rio (IEF), André Ilha; e o presidente da Feema, Axel Grael.

Pelo menos Marilene e a subsecretária Isabella Mônica Teixeira devem ir para Brasília.

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