Opinião
"A LEI será cumprida sempre", anunciou Lula na transmissão de cargo no Ministério do Meio Ambiente. Um presidente da República, em situação normal, não sentiria necessidade de repisar o óbvio. Na questão ambiental, contudo, a ambigüidade impera.
Na tentativa de dissimulá-la, Lula reafirmou: não há política de ministro A ou B, mas política de governo. O presidente logo terá oportunidade de demonstrar se fala sério, além de grosso.
Na sexta-feira, em Belém, nove governadores da região amazônica tentarão acordar uma pauta de reivindicações que tende a forçar a definição presidencial. Entre as exigências com chance de sairem consagradas está o adiamento das medidas de cumprimento da lei contidas na resolução nº 3.545 do Conselho Monetário Nacional, de fevereiro.
A exigência de regularização fundiária e de respeito à reserva legal (pela regra em vigor, 80% de cada propriedade na Amazônia) como condição para obter crédito rural pode ter sido inspirada por Marina Silva, mas foi baixada pela Fazenda, pelo Planejamento e pelo Banco Central. Decisão do Planalto, portanto, que fixou o prazo de 1º de julho para cumprir-se a lei: não financiar empreendimento que desobedeça a normas ambientais.
De sexta-feira até lá, resta a Lula um único mês. Terá então de arbitrar entre afrouxar seu torniquete antidesmatamento, reivindicação dos aliados governadores, e manter sua política de governo. Ao decidir, deixará claro qual o peso relativo do MMA na gestão Carlos Minc.
O retrospecto não autoriza prever aumento de influência da pasta. Soou também constrangedor ouvir do presidente o gracejo de que o novo ministro em poucos dias já falou mais que Marina Silva em cinco anos.
Muitos, no lugar de Minc, começariam apreensivos com a possibilidade de terminarem falando sozinhos na defesa da medida que, a julgar pela resistência de desmatadores, prova-se a mais eficaz para coibir a derrubada ilegal. Para escapar dessa armadilha, Minc precisará de algo mais que um colete verde.
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