quarta-feira, 28 de maio de 2008

Folha - Teste amazônico

Opinião

"A LEI será cumprida sempre", anunciou Lula na transmissão de cargo no Ministério do Meio Ambiente. Um presidente da República, em situação normal, não sentiria necessidade de repisar o óbvio. Na questão ambiental, contudo, a ambigüidade impera.
Na tentativa de dissimulá-la, Lula reafirmou: não há política de ministro A ou B, mas política de governo. O presidente logo terá oportunidade de demonstrar se fala sério, além de grosso.

Na sexta-feira, em Belém, nove governadores da região amazônica tentarão acordar uma pauta de reivindicações que tende a forçar a definição presidencial. Entre as exigências com chance de sairem consagradas está o adiamento das medidas de cumprimento da lei contidas na resolução nº 3.545 do Conselho Monetário Nacional, de fevereiro.

A exigência de regularização fundiária e de respeito à reserva legal (pela regra em vigor, 80% de cada propriedade na Amazônia) como condição para obter crédito rural pode ter sido inspirada por Marina Silva, mas foi baixada pela Fazenda, pelo Planejamento e pelo Banco Central. Decisão do Planalto, portanto, que fixou o prazo de 1º de julho para cumprir-se a lei: não financiar empreendimento que desobedeça a normas ambientais.

De sexta-feira até lá, resta a Lula um único mês. Terá então de arbitrar entre afrouxar seu torniquete antidesmatamento, reivindicação dos aliados governadores, e manter sua política de governo. Ao decidir, deixará claro qual o peso relativo do MMA na gestão Carlos Minc.

O retrospecto não autoriza prever aumento de influência da pasta. Soou também constrangedor ouvir do presidente o gracejo de que o novo ministro em poucos dias já falou mais que Marina Silva em cinco anos.

Muitos, no lugar de Minc, começariam apreensivos com a possibilidade de terminarem falando sozinhos na defesa da medida que, a julgar pela resistência de desmatadores, prova-se a mais eficaz para coibir a derrubada ilegal. Para escapar dessa armadilha, Minc precisará de algo mais que um colete verde.

Nenhum comentário: